quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A África e o Tráfico de Escravos


A prática da escravidão já era utilizada entre os povos africanos. Contudo os europeus transformaram as características da escravidão africana, deram um sentido capitalista e a transformaram no traço mais marcante da vida na América portuguesa.

Escravidão na África
A escravidão na África existia desde a antiguidade e ocorria quase sempre de forma doméstica e com importância relativa na vida social das nações. Muitas vezes os escravos eram integrados à vida familiar, e seu uso representava prestígio e poder. Eram escravizados pelos mais variados motivos: punição por crimes, pagamento de dívidas, prisioneiros de guerra, garantia como penhor, etc.
Os europeus estabeleceram alianças com nações africanas
para empreender o comércio de escravos
Com a chegada dos islâmicos depois do século VII, e principalmente dos europeus a partir do século XV, a questão da escravidão e do tráfico de escravos ganharia novas dimensões e desdobramentos.
A antiga escravidão africana não tinha sentido capitalista que lhes foi emprestado pelos europeus a partir do século XV, interessados no lucro resultante desse comércio humano, fundamental para acumulação de capital no mundo da Idade Moderna.

Islâmicos e europeus
Com os islâmicos firmaram-se as rotas comerciais escravistas transaarianas e do Mar Vermelho, e com os europeus o tráfico ganhou enorme impulso com sua rota transatlântica. Elas impulsionaram de vez o comércio de escravos no eixo das transações econômicas africanas. O caráter comercial, fomentou os confrontos entre etnias rivais, que ajudou a intensificar o aprisionamento de cativos.


Povos africanos desterrados e escravizados
Na Idade Moderna, Portugal foi o primeiro país da Europa a realizar o comércio de escravos africanos. Isso foi possível porque os portugueses, ao longo dos séculos XV e XVI, dominaram muitas regiões no litoral da África, onde fundaram feitorias.
Os conquistadores portugueses estabeleceram alianças com comerciantes e soberanos africanos e passaram a fazer tráfico de escravos através do Atlântico. No início, eram os mercadores portugueses que capturavam os africanos. Mais tarde, em troca de armas, fumo, tecidos, dinheiro, aguardente, açúcar ou cavalos, os próprios chefes africanos passaram a invadir aldeias, capturar os moradores e leva-los, acorrentados, até as feitorias portuguesas.

Viagem e mortes nos navios
Depois de aprisionados em guerras entre os diversos povos na África, os africanos eram acorrentados e marcados com ferro em brasa para identificação. Eram então vendidos aos comerciantes europeus, americanos ou africanos que se estabeleciam no litoral da África e mandados para a América nos chamados navios negreiros.
Péssimas condições de transporte de
seres humanos
No litoral, os africanos escravizados eram embarcados em navios em péssimas condições de viagem. Nos escuros porões dos navios, as condições de higiene praticamente inexistiam o espaço era reduzido e o calor quase insuportável, a água era suja e o alimento, insuficiente para todos a base de legumes secos e mandioca. Devido a isto, era alto o índice de mortalidade, e os navios negreiros eram chamados de tumbeiros, por serem verdadeiras tumbas em alto-mar. A mortalidade era entre 20% a 50% dos transportados.
Os navios negreiros saíam da África, em média, com 600 escravos. Entre 1810 e 1820 os navios negreiros transportavam em média 442 escravos, embora esse número variasse de acordo com o tipo e o tamanho das embarcações.

Receando as possíveis revoltas dos africanos durante a viagem, os traficantes trancavam-nos nos porões dos navios, misturados aos produtos transportados. Alguns navios possuíam dois compartimentos, separando a carga e os cativos. Contudo, o compartimento dos escravos era geralmente muito baixo, fazendo com que eles percorressem a viagem somente sentados. Em alguns navios os homens eram separados das mulheres. A viagem de Luanda (África) até o Recife (Brasil) durava geralmente trinta e cinco dias; até a Bahia, quarenta dias; até o Rio de Janeiro, cerca de dois meses.
Em função do tráfico e de outras condições (epidemias, secas, fome), a população africana não apresentou crescimento até o século XX, pois o número dos que nasciam era praticamente igual ao dos que eram vendidos como escravos para fora do continente.

Números da escravidão
As estimativas sobre o total de escravos trazidos para a América e, especialmente, para o Brasil variam muito. Para toda a América, entre os séculos XVI e XIX, os cálculos vão de 10 a 20 milhões de escravos. Em relação ao Brasil, as estimativas elaboradas pelo historiador Herbert Klein apontam o desembarque de cerca de 4 milhões de africanos entre 1531 e 1855.

Acredita-se que, ao todo, mais de 18 milhões de africanos, entre homens, mulheres e crianças, foram capturados, aprisionados e levados para outras regiões na condição de escravos.
A cada século o número de escravos importados aumentava. No século XVI, o primeiro da colonização, o número foi pequeno, quando comparado aos séculos seguintes, pois as atividades econômicas ainda eram relativamente reduzidas e grande parte da mão-de-obra era indígena. No século XVII, com a retomada da produção de açúcar e dos territórios que estavam em poder dos holandeses, a importação aumentou. No século XVIII, a diversificação da economia brasileira e, principalmente, a descoberta das jazidas de ouro no interior do Brasil fizeram crescer a necessidade de mão-de-obra. O tráfico negreiro foi legalmente extinto no Brasil em 1831, mas continuou como uma atividade ilegal até por volta de 1855. No século XIX, embora o período da atividade tenha sido menor, o tráfico foi ainda mais intenso do que nos séculos anteriores, e se destinava a abastecer principalmente a lavoura de café, que se expandia pelo sudeste do Brasil.

O lucrativo tráfico negreiro
O tráfico negreiro era um comércio que unia interesses na África, Europa e América. Os navios dos europeus levavam mercadorias para a costa africana — como tecidos grosseiros, aguardente, tabaco e armas —, que eram trocadas por escravos. Posteriormente, esses escravos eram vendidos para os colonos americanos. Os primeiros escravos africanos destinaram-se às terras portuguesas na Europa e nas ilhas do oceano Atlântico que pertenciam ao governo português onde já havia sido iniciada a produção de açúcar.
Haviam vários portos de desembarque de escravos na América. No Caribe, os portos mais importantes estavam localizados nas ilhas da Jamaica, Cuba e são Domingos. Lá eram enviados para outras ilhas do Caribe, para o sul das colônias inglesas e o norte da América do Sul. Na colônia portuguesa, os principais portos eram do Recife, Salvador e Rio de Janeiro. O porto do Rio de Janeiro, redistribuía os cativos para o sul da América do Sul. Nestes locais as famílias eram separadas, sendo vendidos separadamente, pais, mãe e filhos.
Os escravos eram vendidos separados, sem respeitar
os laços familiares
As primeiras regiões do Brasil que receberam escravos africanos foram Bahia e Pernambuco, locais onde a produção de açúcar mais prosperou. Ao longo do século XVII, o tráfico de escravos chegou a dar mais lucro para a metrópole portuguesa do que o próprio negócio do açúcar.

O trabalho dos cativos africanos foi de tal modo assimilado na produção açucareira que, em 1711, o jesuíta italiano André João Antonil (1650-1716), que viveu muito tempo na Bahia, escreveu: Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e aumentar fazenda.





-Expansão Marítima Europeia
-Mercantilismo
- Colonização e Administração da América Portuguesa 

Nenhum comentário:

Postar um comentário