A África e o Tráfico de Escravos
A
prática da escravidão já era utilizada entre os povos africanos. Contudo os
europeus transformaram as características da escravidão africana, deram um
sentido capitalista e a transformaram no traço mais marcante da vida na América
portuguesa.
Escravidão na África
A
escravidão na África existia desde a antiguidade e ocorria quase sempre de
forma doméstica e com importância relativa na vida social das nações. Muitas
vezes os escravos eram integrados à vida familiar, e seu uso representava
prestígio e poder. Eram escravizados pelos mais variados motivos: punição por
crimes, pagamento de dívidas, prisioneiros de guerra, garantia como penhor,
etc.
Os europeus estabeleceram alianças com nações africanas para empreender o comércio de escravos |
Com
a chegada dos islâmicos depois do século VII, e principalmente dos europeus a
partir do século XV, a questão da escravidão e do tráfico de escravos ganharia
novas dimensões e desdobramentos.
A
antiga escravidão africana não tinha sentido capitalista que lhes foi
emprestado pelos europeus a partir do século XV, interessados no lucro
resultante desse comércio humano, fundamental para acumulação de capital no
mundo da Idade Moderna.
Islâmicos e europeus
Com
os islâmicos firmaram-se as rotas comerciais escravistas transaarianas e do Mar
Vermelho, e com os europeus o tráfico ganhou enorme impulso com sua rota
transatlântica. Elas impulsionaram de vez o comércio de escravos no eixo das
transações econômicas africanas. O caráter comercial, fomentou os confrontos
entre etnias rivais, que ajudou a intensificar o aprisionamento de cativos.
Povos africanos
desterrados e escravizados
Na
Idade Moderna, Portugal foi o primeiro país da Europa a realizar o comércio de
escravos africanos. Isso foi possível porque os portugueses, ao longo dos
séculos XV e XVI, dominaram muitas regiões no litoral da África, onde fundaram
feitorias.
Os
conquistadores portugueses estabeleceram alianças com comerciantes e soberanos
africanos e passaram a fazer tráfico de escravos através do Atlântico. No
início, eram os mercadores portugueses que capturavam os africanos. Mais tarde,
em troca de armas, fumo, tecidos, dinheiro, aguardente, açúcar ou cavalos, os
próprios chefes africanos passaram a invadir aldeias, capturar os moradores e
leva-los, acorrentados, até as feitorias portuguesas.
Viagem e mortes nos
navios
Depois
de aprisionados em guerras entre os diversos povos na África, os africanos eram
acorrentados e marcados com ferro em brasa para identificação. Eram então
vendidos aos comerciantes europeus, americanos ou africanos que se estabeleciam
no litoral da África e mandados para a América nos chamados navios negreiros.
Péssimas condições de transporte de seres humanos |
No
litoral, os africanos escravizados eram embarcados em navios em péssimas condições
de viagem. Nos escuros porões dos navios, as
condições de higiene praticamente inexistiam o espaço era reduzido e o calor
quase insuportável, a água era suja e o alimento, insuficiente para todos a
base de legumes secos e mandioca. Devido a isto, era alto o índice de
mortalidade, e os navios negreiros eram chamados de tumbeiros, por serem
verdadeiras tumbas em alto-mar. A mortalidade era entre 20% a 50% dos
transportados.
Os
navios negreiros saíam da África, em média, com 600 escravos. Entre 1810 e 1820
os navios negreiros transportavam em média 442 escravos, embora esse número
variasse de acordo com o tipo e o tamanho das embarcações.
Receando
as possíveis revoltas dos africanos durante a viagem, os traficantes trancavam-nos
nos porões dos navios, misturados aos produtos transportados. Alguns navios
possuíam dois compartimentos, separando a carga e os cativos. Contudo, o
compartimento dos escravos era geralmente muito baixo, fazendo com que eles percorressem
a viagem somente sentados. Em alguns navios os homens eram separados das mulheres.
A viagem de Luanda (África) até o Recife (Brasil) durava geralmente trinta e
cinco dias; até a Bahia, quarenta dias; até o Rio de Janeiro, cerca de dois
meses.
Em
função do tráfico e de outras condições (epidemias, secas, fome), a população
africana não apresentou crescimento até o século XX, pois o número dos que
nasciam era praticamente igual ao dos que eram vendidos como escravos para fora
do continente.
Números da escravidão
As
estimativas sobre o total de escravos trazidos para a América e, especialmente,
para o Brasil variam muito. Para toda a América, entre os séculos XVI e XIX, os
cálculos vão de 10 a 20 milhões de escravos. Em relação ao Brasil, as estimativas
elaboradas pelo historiador Herbert Klein apontam o desembarque de cerca de 4
milhões de africanos entre 1531 e 1855.
Acredita-se
que, ao todo, mais de 18 milhões de africanos, entre homens, mulheres e
crianças, foram capturados, aprisionados e levados para outras regiões na
condição de escravos.
A
cada século o número de escravos importados aumentava. No século XVI, o
primeiro da colonização, o número foi pequeno, quando comparado aos séculos
seguintes, pois as atividades econômicas ainda eram relativamente reduzidas e
grande parte da mão-de-obra era indígena. No século XVII, com a retomada da
produção de açúcar e dos territórios que estavam em poder dos holandeses, a
importação aumentou. No século XVIII, a diversificação da economia brasileira
e, principalmente, a descoberta das jazidas de ouro no interior do Brasil
fizeram crescer a necessidade de mão-de-obra. O tráfico negreiro foi legalmente
extinto no Brasil em 1831, mas continuou como uma atividade ilegal até por
volta de 1855. No século XIX, embora o período da atividade tenha sido menor, o
tráfico foi ainda mais intenso do que nos séculos anteriores, e se destinava a
abastecer principalmente a lavoura de café, que se expandia pelo sudeste do
Brasil.
O lucrativo tráfico
negreiro
O
tráfico negreiro era um comércio que unia interesses na África, Europa e
América. Os navios dos europeus levavam mercadorias para a costa africana —
como tecidos grosseiros, aguardente, tabaco e armas —, que eram trocadas por
escravos. Posteriormente, esses escravos eram vendidos para os colonos
americanos. Os primeiros escravos africanos destinaram-se às terras portuguesas
na Europa e nas ilhas do oceano Atlântico que pertenciam ao governo português
onde já havia sido iniciada a produção de açúcar.
Haviam
vários portos de desembarque de escravos na América. No Caribe, os portos mais
importantes estavam localizados nas ilhas da Jamaica, Cuba e são Domingos. Lá
eram enviados para outras ilhas do Caribe, para o sul das colônias inglesas e o
norte da América do Sul. Na colônia portuguesa, os principais portos eram do Recife,
Salvador e Rio de Janeiro. O porto do Rio de Janeiro, redistribuía os cativos
para o sul da América do Sul. Nestes locais as famílias eram separadas, sendo vendidos separadamente, pais, mãe e filhos.
Os escravos eram vendidos separados, sem respeitar os laços familiares |
As
primeiras regiões do Brasil que receberam escravos africanos foram Bahia e
Pernambuco, locais onde a produção de açúcar mais prosperou. Ao longo do século
XVII, o tráfico de escravos chegou a dar mais lucro para a metrópole portuguesa
do que o próprio negócio do açúcar.
O
trabalho dos cativos africanos foi de tal modo assimilado na produção
açucareira que, em 1711, o jesuíta italiano André João Antonil (1650-1716), que
viveu muito tempo na Bahia, escreveu: Os escravos são as mãos e os pés do
senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer, conservar e
aumentar fazenda.
-Expansão Marítima Europeia
-Mercantilismo
- Colonização e Administração da América Portuguesa
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