domingo, 8 de novembro de 2015

O Renascimento Comercial e Urbano

Gênova e Veneza tinham muito a ganhar com as cruzadas. Essas cidades italianas faziam do comércio sua principal atividade econômica, e a conquista de alguns portos do Oriente reativaria o comércio europeu com aquela região, enfraquecido depois da queda do império Romano.

1. A comercialização de produtos
A intensificação do comércio com o Oriente despertou nos europeus o gosto pelas especiarias, produtos usados para condimentar e conservar os alimentos. Passaram a consumir cada vez mais pimenta, cravo, açúcar, arroz, canela, marfim, perfumes, tapeçarias, tecidos e sedas, entre outros. Estes produtos eram tão caros e raros que, muitas vezes, eram utilizados como moeda.
Negociar especiarias na Europa, obtidas de entreposto no Egito, na Síria e em Constantinopla, passou a ser monopólio das cidades italianas. Com essas transações começou a se estruturar um novo mundo europeu que ultrapassa as fronteiras que deixavam os escambos e passaram a ser medidas pelo dinheiro. Assim, o relacionamento entre vários feudos, vilarejos e pequenas cidades ficou cada vez mais intenso.
Feira medieval
Os novos núcleos urbanos formados nesses períodos foram denominados burgos. Eram lugares em que se desenvolviam o comércio e o artesanato. Muitos servos, andarilhos e marginais empobrecidos foram atraídos pela vida nos burgos.
Estabeleceram-se rotas comerciais no continente europeu. Seu objetivo era abastecer as diferentes regiões com os novos produtos trazidos do Oriente e escoar os artigos vindos de diferentes pontos da Europa. No cruzamento das rotas surgiram as feiras, verdadeiros mercados de distribuição de produtos. Entre as mais importantes desse período destacam-se as de Champagne, no interior de França, e as de Flandres, no Norte europeu.
Os produtos e mercadores do Norte da Europa também participavam de uma intensa rede de comércio independente. O crescimento das transações comerciais na região levou as cidades envolvidas a organizar uma entidade para garantir vantagens e lucros sobre os negócios. Essa associação, denominada Liga Hanseática, conseguiu eliminar os concorrentes e impor os seus preços em mais de 200 cidades.

2. Corporações de ofício
Os comerciantes e artesão dos núcleos urbanos também passaram a se associar para proteger seus interesses. Suas associações denominam-se corporações de ofício eram organizadas segundo as diferentes categorias profissionais.
Nas corporações de ofício, o aprendiz  aprendia o ofício
pelo mestre. Na ilustração um aprendiz de padeiro
As corporações de ofício apresentavam uma rígida hierarquia: no topo, achava-se o mestre, dono da oficina, que, junto a outros mestres, controlava a corporação; abaixo dele, encontravam-se os companheiros ou oficiais, remunerados de acordo com a jornada de trabalho, por isto foram chamados de jornaleiros.
Nas oficinas também trabalhavam os aprendizes, jovens que, em troca de trabalho, recebiam casa, comida e aprendiam o ofício. A pós o período de aprendizagem, caso demonstrasse habilidade, o jovem ascendia à condição de oficial, podendo chegar a mestre. As corporações, porém, dificultavam o surgimento de novos mestres: essa posição ficava geralmente reservada aos filhos dos mestres já estabelecidos. Com isso, diminuíam a concorrência local e favoreciam o enriquecimento de um número reduzido de pessoas.

O surgimento dos bancos
Os bancos surgiram durante a Idade Média
O desenvolvimento comercial envolveu transação entre pessoas das mais distintas regiões (cada qual com moeda própria) proporcionou a expansão das atividades bancárias. Alguns comerciantes passaram a se dedicar exclusivamente ao empréstimo de dinheiro (financiando viagens para regiões distantes em troca de uma parcela dos lucros) e a efetuar a troca de moedas (câmbio). Logo passaram a aceitar depósitos de dinheiro e a participar de atividades comerciais, originando um importante grupo urbano: a dos banqueiros.
Durante as cruzadas, devido ao perigo de transportar seus recursos nas longas viagens, os cruzados fundaram bancos, para que pudessem "depositar" seus valores e retirarem com segurança em outro local.

O surgimento das cidades
Apesar de enriquecerem com as novas atividades, as cidades não se viram automaticamente livre da tutela dos senhores. Eles continuavam a comandar a vida dos novos burgos. Seus moradores, antigos e novos, continuavam vinculados às tradicionais obrigações e ao pagamento de tributos. Passaram, então, a reivindicar autonomia em relação ao domínio feudal.
As cidades surgiram a partir dos feudos durante a
Baixa Idade Média
Ao longo da chama Baixa Idade Média prevaleceu a conquista armada ou a compra das liberdades urbanas, efetivadas com a obtenção das cartas de franquia. As cidades que obtinham sua independência em relação ao feudo recebiam, na Itália, o nome de repúblicas, de comunas na França e de burgos, cidades livres, na Alemanha.

3. A cultura e educação na Idade Média
A cultura na Idade Média é baseada nos rituais da Igreja. As pinturas são basicamente de santos, sobre a vida e morte de jesus e vida de Maria. Os cantos, destaca-se o canto gregoriano e as obras literárias, muito pouco se escreveu, o que ocorria dentro dos mosteiros e abadias, era basicamente as cópias realizadas pelos monges copistas, das obras clássicas helênicas e da bíblia em latim, sem o uso nas novas línguas vernáculas, nestas obras destaca-se a iluminuras para ornamentação das obras.

O Ocidente nasceu na Idade Média
A época medieval foi o momento no qual foram elaborados os traços que formaram a sociedade ocidental. O reconhecimento do papel da Idade Média para a formação do Ocidente, tem sido importante para a desconstrução do discurso negativo e preconceituoso que mostra a civilização medieval como um intervalo de trevas entre o classicismo greco-romano e o classicismo renascentista.
Hoje, podemos ver inúmeras práticas sociais e traços culturais que foram concebidos na época medieval e que fazem parte do nosso modo de vida: o casamento cristão, monogâmico e sacralizado, foi elaborado no interior da sociedade medieval, no século XII; também foi lá que os trovadores criaram o amor cortês, no qual o amante deve obediência e servidão à mulher amada, que lança as bases do que hoje conhecemos como amor romântico. Vale lembrar ainda o processo de formação do catolicismo, pois na Idade Média, ao mesmo tempo que o cristianismo se paganizou, o paganismo se cristianizou.
Os Goliardos não se preocupavam com o modelo
social medieval
Apesar do rigor religioso, a cultura medieval, no entanto, não se restringiu às determinações da Igreja. Em muitas comunidades eram realizados ritos pagãos, dedicados a diversas divindades e marcados por comportamentos diferentes das práticas católicas. Eram credos herdados de antigos povos bárbaros. Manifestações de vários grupos sociais desafiavam a sobriedade e os rigores dos padrões estabelecidos pela Igreja.

Goliardos
Eram poetas religiosos, que não se preocupavam em manter no comportamento moral estabelecido para época, pois bebiam e comiam muito, sendo muito atuantes em Paris durante o século XII. Em seus poemas, eles desprezavam o alto clero e valorizavam os prazeres do jogo, da bebida, da fortuna e do amor profano. O tema preferido das suas composições é o amor, em especial o amor que não respeita convenções sociais nem qualquer moral estabelecida (indo contra os votos religiosos professados), e toda a espécie de prazeres sensuais - proibidos, em teoria, aos religiosos). Carmina Burana, é a maior obra feita por eles.

Sincretismo
Nem mesmo a devoção católica dos grupos dominantes era extremamente igual à dos grupos populares, aos quais integram ao cristianismo elementos de antigas crenças, como dragões, anões, deuses etc. Muitos foram adotados mais tarde pelo clero cristão, com intenção de se aproximar das pessoas comuns. Foi o caso da deusa céltica Brigit que deu origem à Santa Brígida, cultuada pelos irlandeses.

Carnaval
Outra festa de origem pagã. Esta festa, era de origem clássica, uma comemoração ao deus grego Dionísio, deus do vinho e embriaguez, da colheita e da prosperidade e fertilidade. Com a dominação romana apenas mudou-se o nome do deus para Baco, mantendo a festa. Contudo, após queda de Roma, as comunidades agrícolas bárbaras, continuaram usando desta data para celebrar a colheita e festejar seus deuses em cerimônias coletivas, nas quais vestiam máscaras e imitavam animais.
O carnaval era um período de alegria antes da quaresma
Esta festa foi incorporada ao calendário cristão, antes da quaresma. Assim, a festa funcionaria como uma maneira de conceder mais liberdade aos antigos costumes pagãos antes de um rigoroso período de purificação cristã.  Nesta época o carnaval era uma forma de subverter a ordem estabelecida.

O ensino
O ensino era ligado, evidentemente, ao clero, e as igrejas, via de regra, tinham uma escola. Há documentos que mostram a existência de escolas privadas ou fundações, mas o papel do ensino era das escolas das igrejas. Filhos de grandes senhores eram educados nas mesmas escolas que filhos de camponeses, de modo que se podia ter um ensino gratuito para os pobres e pago para os ricos. É possível dar exemplos de grandes senhores que eram homens de alta cultura, como Guilherme IX , duque da Aquitânia e Conde de Poitiers, primeiro trovador conhecido, como também temos registros de homens humildes que estudaram e galgaram postos importantes, como o Papa Gregório VII , que era filho de um pastor de cabras .
A Igreja era a grande responsável pelo ensino e, muitos livros foram censurados ou proibidos por ela, entretanto, há uma série de mediações a serem feitas. Porém foi o trabalho dos monges que permitiu, em boa medida, a manutenção das obras literárias da Antiguidade. As escolas monásticas, irão se constituir não apenas para formar monges, mas, com o tempo, se tornam escolas para o público externo, com o objetivo de ensinar os leigos. E esse ensino não se resumia ao estudo da bíblia, ao ler e ao escrever, mas também ao ensino de aritmética, de retórica, de dialética e de gramática.
Na Idade Média surgiram as Universidades
Em Paris, havia importantes escolas que contribuíram para a efervescência cultural da cidade: a escola Notre-Dame, as escolas das abadias como Sainte-Geneviève, Saint-Victor ou Saint-Germain des Près e as escolas formadas por mestres com licença para ensinar. A essas escolas se dirigiam jovens de todas as partes, muitas vezes atrás de um mestre como Pedro Abelardo – o primeiro professor, como diz Le Goff. Pelas ruas de Paris transitavam estudantes de todas as partes, inclusive os chamados goliardos, estudantes que se deleitavam e cantavam os prazeres da vida na cidade. A referência que faço aos goliardos quer mostrar um pouco da indulgência que, sobretudo o clero, tinha com os jovens estudantes, que levavam riqueza e progresso à cidade.
A Idade Média inventou a universidade. A universidade medieval buscava sua autonomia ante o poder secular e o poder da Igreja. A propósito disso, o desejo pela autonomia nas corporações universitárias, na Idade Média, levou o Chanceler, em 1213, em Paris, a perder praticamente o privilégio de conceder a licença para ensinar; esse privilégio passou a ser dos mestres da própria universidade. Em 1301, a universidade deixa de estar sob a jurisdição do Bispo local. Foi lutando ora contra os poderes eclesiásticos, ora contra os poderes leigos que a universidade medieval procurou conquistar sua autonomia.

Arquitetura gótica
Transformações culturais
As transformações políticas e sociais ocorridas na passagem da Alta para a Baixa Idade Média tiveram seus reflexos também no campo da cultura. O chamado renascimento comercial fez do conhecimento uma ferramenta fundamental em todas as áreas, e a educação recebeu mais destaque. As manifestações artísticas ganharam impulso renovado.
O saber deixou de ser restrito aos membros da Igreja. As tradicionais escolas monásticas, dirigidas quase unicamente para a formação de religioso ou para a educação de nobres, já não atendiam ás novas exigências urbanas da Baixa Idade Média.
Foram fundadas várias escolas leigas com métodos e disciplinas alternativas (as universitates), que serviam aos filhos dos mercadores e artesãos enriquecidos. Surgiram assim as primeiras universidades e os pensadores passaram a dar mais importância aos problemas mundanos, não apenas ás questões do espírito, dando início às transformações que se consolidariam posteriormente.
Nas universidades medievais, alunos e professores associavam-se para estudar três ramos do conhecimento: artes, leis e teologia. Em geral, o aluno que ingressa numa das universidades europeias permanecia, aproximadamente, oito anos estudando o trivium, composto de gramática, retórica e lógica e o quadrivium, formado por aritmética, geometria, astronomia e música. Em seguida, elegia uma das áreas em que desejava se especializar.
Interior de uma igreja gótica
A vida universitária expandiu-se tanto durante a Baixa Idade Média que, no final desse período, havia mais de 80 universidades em toda a Europa. Somente em Paris contava com milhares de alunos ainda no século XIII. Outras universidades famosas as de Oxford e Cambridge, na Inglaterra; Montpellier, na França; Salamanca, na Espanha; Coimbra, Portugal. Na Itália destaca-se de Salerno, com uma escola de medicina já no século XI, e a de Bolonha, considerada a primeira a ser fundada em 1088.
Em filosofia e religião, um nome que se destacou no período foi o teólogo São Tomás de Aquino, que buscou elaborara uma doutrina que conciliasse fé e a razão. Tomás de Aquino foi mestre da Universidade de Paris e modificou a doutrina de Santo Agostinho.
São Tomás voltou-se aos estudos de Aristóteles para construir uma filosofia que tomava como ponto de partida a racionalidade das coisas do mundo cotidiano. Em sua obra “Suma Teológica”, negava a predestinação e admitia o livre arbítrio nas ações humanas. Cada pessoa teria alguma independência com relação a seu destino, e apenas a fé, sem auxílio da razão, não indicaria o caminho da redenção eterna.
Vitrais coloridos era uma marca da arquitetura gótica
Outras ideias defendidas pelo filósofo estão relacionadas diretamente aos “novos tempos”, em que as práticas comerciais definiam outra ordem política e social. Ele defendia o “justo preço”: um produto deveria ser vendido pelo valor da matéria-prima empregada, somado ao valor o trabalho exigido. Reprovava a “ambição de ganho”. Condenava os empréstimos e altos juros, a chamada usura, prática comum entre mercadores financistas presentes em muitas cidades europeias.
O tomismo (como ficou conhecido a doutrina do Tomas de Aquino) defendia, de um lado, o retorno para as coisas mundanas, do cotidiano, que haviam sido menosprezados durante toda a Alta Idade Média, de outro, buscava preservar as estruturas da Igreja e da sociedade feudal, ameaçados pelo crescente desenvolvimento comercial nas cidades europeias durante a Baixa Idade Média.
Rosácea sempre presente no centro da edificação
Fora dos domínios da Igreja, no campo da filosofia, destacou-se ainda, nesse período, a figura de Roger Bacon, preconizador do experimentalismo. Para ele, toda a verdade deveria ser comprovada pela experiência, pela observação da natureza e de seus fenômenos. Essa ideia estimulou, mais tarde, vários outros pensadores a buscar novos métodos para a construção do conhecimento sobre o mundo.
Durante a fase final da Idade Média ganharam forças as línguas nacionais europeias, fruto da fusão gradual das línguas bárbaras com a romana. Elas viriam a ser o que hoje conhecemos como línguas inglesa, italiana, francesa, portuguesa, etc. Esses novos idiomas nacionais, por sua vez, deram grande impulso à literatura, com obras escritas nas línguas vernáculas em lugar do tradicional latim.
A grande obra literária da Idade Média foi a Divina Comédia (1321), do florentino Dante Alighieri, considerada, hoje, a primeira obra de vulto escrita em uma língua não clássica. Seu conteúdo reflete as transformações da Baixa Idade Média e aponta na direção de um movimento cultural que ganharia corpo no século XIV: o Renascimento cultural.
Na arquitetura medieval, predominou o estilo românico durante os séculos XI e XII em castelos, igrejas e mosteiros. Seus traços principais eram: solidez (paredes extremamente grossas), arcos redondos (muito parecidos com os arcos romanos, por isto o nome) e a quase ausência de aberturas que possibilitassem a passagem de luz para o interior das construções.
A partir do século XII, difundiu-se o estilo arquitetônico gótico ou ogival, caracterizado por linhas verticais, paredes finas, vitrais coloridos, interiores iluminados. Criado na França, esse estilo influenciou toda a arquitetura religiosa no final da Idade Média.







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