Invasão Holandesa no Brasil
Acontecimentos políticos na Europa, envolvendo Portugal, Espanha e Holanda se refletiram no Brasil. Uma delas foi a União Ibérica, ocorrido porque o rei português, d. Henrique, morreu em 1580 sem deixar herdeiro. O rei da
Espanha, Felipe II, tomou a coroa portuguesa e uniu Portugal e Espanha em um único reino, entre os anos de 1580 e 1640.
Holanda, de aliada a inimiga
Para construir um engenho de açúcar, era necessário um investimento muito elevado. Como a maioria dos portugueses, que vieram para colonizar suas terras, não dispunham de dinheiro suficiente para custear seus empreendimentos, foi necessário procurar capital com banqueiros. A Holanda contava com grandes bancos, especialmente a maioria deles de propriedades de judeus que foram expulsos de Portugal e Espanha pela Inquisição.
A Holanda, então, passou a garantir todas as etapas da produção do açúcar, desde o financiamento até o fornecimento de equipamentos. Em troca, os holandeses tinham o direito de comercializar o açúcar. Eles atracavam nos portos das colônias portuguesas para comprar e revender o produto, além de transportá-lo, refiná-lo e distribuí-lo na Europa.
Com a União Ibérica, todos os inimigos da Espanha, passaram a ser inimigos de Portugal, inclusive a Holanda, antiga parceira de portuguesa. O reino de Felipe II abrangia os Países
Baixos (Holanda e Bélgica atuais). Algumas províncias dessa região, de maioria protestante, estavam descontentes como domínio espanhol, devido a cobrança de pesados tributos e pela imposição do catolicismo. Depois de vários anos de luta, conseguiram de libertar da Espanha, formando assim, um país independente, a Holanda.
Inconformado, o rei Felipe II, proibiu o comércio da Holanda
com as colônias lusitanas. Revoltados, com a perda de seus lucros, os holandeses invadiram e conquistaram
territórios pertencentes à Espanha, em especial aqueles destinados ao tráfico
negreiro na África e à produção de açúcar na América portuguesa. Para organizar estas incursões militares, foi criada a Companhia das Índias Ocidentais, empresa fundada por holandesas, com o apoio do governo da Holanda.
A invasão holandesa
A Companhia da Índias Ocidentais, passou a deter o monopólio do comércio na América e na África, e, assim organizou a invasão holandesa no Brasil. O primeiro grande
ataque ocorreu em 1624, na Bahia, com o objetivo de tomar Salvador, a sede do
Vice Reinado ibérico na colônia. Em
um primeiro momento, o ataque foi bem-sucedido, tomaram a cidade sem muita resistência e prenderam o governador ibérico.
Porém, a resistência organizada pela população local, após a invasão, impediu que os holandeses avançassem ao interior e consolidassem seu domínio. A tática usada foi a guerra de emboscadas, onde os habitantes locais saíam da mata, em pequenos bandos e atacavam os holandeses de surpresa. Para auxiliar na guerra contra os holandeses, a Espanha enviou sua marinha, contando com cerca de 12 mil homens. Não podendo resistir, os holandeses se renderam, em 1625.
A
derrota em Salvador revelou a necessidade pelos holandeses de buscar, na rica
região do açúcar, uma área menos protegida, mas de igual importância econômica
para atacar. A escolha recaiu sobre a capitania de Pernambuco, o maior produtor mundial de açúcar, na época.
Em
1630, o holandeses atacaram o litoral pernambucano e, depois de vários
enfrentamentos com tropas portuguesas e proprietários locais, apoderaram-se de Olinda e Recife, fundando em 1635 a Nova Holanda. A sede do governo holandês,
estabelecida primeiramente em Olinda, logo foi transferida para Recife.
O então governador ibérico, Matias de Albuquerque, retirou-se para o interior com seus soldados e armas e fundou o Arraial do Bom Jesus, forte de resistência aos invasores. Contudo, os holandeses ficaram isolados nos núcleos urbanos, enquanto os ibéricos dominavam a região dos engenhos.
Para possibilitar sucesso de seu domínio, os holandeses garantiram proteção aos senhores de engenho que desejassem retornar as suas propriedades e incentivaram a compra dos engenhos abandonados. Assim, contando com apoio de moradores locais, entre eles Domingos Fernandes Calabar, os holandeses conseguiram dominar a região. O governador ibérico, conseguiu prender Calabar e mandou executá-lo, ordenou que ateassem fogo nos canaviais e se retirou para Alagoas.
O
domínio holandês na América portuguesa
Depois
da conquista de Pernambuco, novos ataques possibilitaram aos holandeses
estender seus domínios de Alagoas até o Rio Grande do Norte. No início, os
senhores de engenho se opuseram aos estrangeiros, pois temiam perder suas
propriedades. Entretanto eles aceitaram o governo holandês quando perceberam
que seu maior objetivo era o interesse no comércio do açúcar.
Em 1637, a Companhia das Índias Ocidentais, nomeou o nobre holandês João Maurício de Nassau, como governador para comandar o desenvolvimento das terras dominadas. A administração de Nassau caracterizou-se pela modernização e recuperação da economia local. Assim, cidade de Recife, sede da administração holandesa, ganhou ares de cidade
europeia: praças, canais, palácios, museus, zoológicos pontes e edifícios foram construídos; as ruas foram calçadas; até um observatório astronômico foi construído.
Maurício de Nassau, fez alianças e concedeu empréstimos aos fazendeiros, a fim de retomar rapidamente a produção de açúcar, prejudicada pela guerra. Assim, os senhores de engenho puderam comprar escravos, recuperar as máquinas defeituosas e retomar a produção. Foi estalecido leis, nomeado juízes, funcionários públicos .
Os
holandeses promoveram uma série mudanças na vida colonial nordestina, com a
introdução de novos hábitos e costumes e uma política de tolerância religiosa e
cultural. Seguidores do calvinismo, missionários holandeses realizaram um
intenso trabalho de conversão dos índios à igreja reformada, especialmente com
os potiguares. Nassau, concederam liberdade religiosa, para evitar possíveis confrontos entre os senhores de engenho (católicos) e os holandeses (protestantes).
O governador trouxe cientistas, como Georg Marcgraf e Willen Piso e artistas europeus, como Albert Eckhout registraram a natureza e a paisagem local em seus trabalhos. O mais conhecido dos pintores foi Frans Post, que viveu no Brasil de 1637 a 1644.
Expulsão dos holandeses
Em 1640 a União Ibérica chegou ao fim com
a aclamação de d. João IV, e, Portugal tentou
recuperar seu império ultramarino. As dificuldades financeiras ainda impediram
que os territórios dominados pelos estrangeiros fosse prontamente recuperados. Em 1641, d. João assinou um tratado de paz por 10 anos com a Holanda. Por este motivo, os holandeses permaneceram no Nordeste até 1654.
A
saída de Maurício de Nassau, do governo holandês, no Nordeste em 1644, pôs fim à
boa convivência que tinha sido estabelecida entre holandeses e colonos no
Nordeste açucareiro.
Os
novos administradores, preocupados somente com os lucros, tentaram recuperar os enormes gastos feitos por Nassau e aumentar
os lucros da companhia holandesa. Pressionaram então, os fazendeiros a saldar suas dívidas, sob ameaça de confiscar seus escravos, suas terras ou a produção do
açúcar. Tal situação, levou os senhores de engenho a se oporem aos holandeses.
Em 1645, teve início a Insurreição Pernambucana que se estendeu por 9 anos, onde tropas luso-brasileiras lutaram contra os holandeses. As duas Batalhas dos Guararapes, em 1648 e em 1649, vencidas pelos luso-brasileiros, foram decisivas para restaurar
gradualmente o domínio português.
O governo português, então, ajudado pela Inglaterra, que disputava contra a Holanda o domínio dos mares, enviou a Pernambuco uma frota naval de guerra. Atacados por terra e mar, os holandeses se renderam. Em
1654, os holandeses assinaram a Capitulação da Campina da Taborda e se
retiraram definitivamente do território nordestino. A paz, só foi assinada em
1661.
Com a experiência adquira no Nordeste do Brasil, com a produção de açúcar, a Holanda passou a produzir açúcar nas Antilhas. Além disso, a Holanda possuía uma enorme frota naval e grande experiência na distribuição do açúcar na Europa.
Sem as fontes de financiamento e com a concorrência do produto antilhano, o setor entrou em crise. Entre os anos de 1650 e 1700, os preços do açúcar brasileiro caíram pela metade.
- Colonização e Administração da América Portuguesa
- Economia Açucareira
- União Ibérica
Nenhum comentário:
Postar um comentário