Também
chamada de peste bubônica, assim ficou conhecida a pandemia que, vinda da China
em navios mercantes, entre 1347 e 1350, rapidamente se espalhou para diversos
países com consequências desastrosas, reduzindo a população europeia em
aproximadamente um terço (cerca de 25 milhões de pessoas).
1. A origem da peste
O
causador da peste negra foi uma bactéria chamado Pasturella Pestis (descoberto
posteriormente no final do século XIX) presente em roedores tais como ratos e
suas pulgas (Xenopsilla cheopis). Estes foram os responsáveis pelo contágio de
seres humanos. A peste era extremamente agressiva chegando a matar em três
dias.
A
peste negra é originária das estepes da Mongólia, onde pulgas hospedeiras da
bactéria infectaram diversos redores que entraram em contato com zonas de
habitação humana. Na Ásia, os animais de transporte e as peças de roupa dos
comerciantes serviam de abrigo para as pulgas infectadas. Nos veículos
marítimos, os ratos eram os principais disseminadores dessa poderosa doença. O
intercâmbio comercial entre o Ocidente e o Oriente, reavivado a partir do
século XII, explica a chegada da doença na Europa pelos portos mercantis de
Gênova e Venesa.
Havia
três formas da peste se manifestar:
a) Peste bubônica: a mais comum, que se
caracterizava pela inflamação dos gânglios linfáticos do pescoço, virilhas e
axilas,
b) Pneumônica: atacava os pulmões;
c) Septicêmica: atacava o sangue, ocasionando
hemorragias em diversas partes do corpo.
A
doença alastrava-se facilmente entre as pessoas através de espirros e tosse com
pus e sangue. O aspecto dos doentes era horrível, os tumores secretavam sangue
e pus, a urina, o suor, a saliva e o escarro apresentavam aspecto escurecido
(daí o nome peste negra). Há relatos de que as pessoas acometidas pela peste fediam
muito. Entre os sintomas é importante ressaltar a febre alta e dores
fortíssimas.
Roupa que os médicos medievais utilizavam |
A
peste não escolhia vítimas, morriam mulheres, crianças, nobres, clérigos e
camponeses. Durante este período a produção agrícola e industrial diminui
muito, houve escassez de alimentos e de bens de consumo. Os efetivos militares
diminuíram, a nobreza empobreceu e ocorreu a ascensão da burguesia, que detinha
a exploração do comércio. Todos estes fatores provocaram grandes mudanças
sociais.
O
contato humano com a doença desenvolve-se principalmente pela mordida de ratos
e pulgas, ou pela transmissão aérea. Em sua variação bubônica, a bactéria cai
na corrente sanguínea, ataca o sistema linfático provocando a morte de diversas
células, e cria dolorosos inchaços entre as axilas e a virilha. Com o passar do
tempo, esses inchaços, conhecidos como bubões, se espalham por todo corpo.
Quando ataca o sistema circulatório, o infectado tem uma expectativa de vida de
aproximadamente uma semana.
Além
de atacar o sistema linfático, essa doença também pode atingir o homem pelas
vias aéreas atacando diretamente o sistema respiratório. Essa segunda versão da
doença, conhecida como peste pneumônica, tem um efeito ainda mais devastador e
encurta a vida do doente em um ou dois dias. Em outros casos, a peste negra
também pode atingir o sistema sanguíneo. Desprovida de todo esse conhecimento
científico sobre a doença, a Europa medieval explicava e tratava da doença de
formas diversas.
Desconhecendo
as origens biológicas da doença, muitos culpavam os grupos sociais
marginalizados da Baixa Idade Média por terem trazido a doença à Europa. Alguns
registros da época acusavam os judeus, os leprosos e os estrangeiros de terem
disseminado os horrores causados pela peste negra. No entanto, as condições de
vida e higiene nos ambientes urbanos do século XIV são apontadas como as
principais propulsoras da epidemia.
Na
época, as cidades medievais agrupavam desordeiramente uma grande quantidade de
pessoas. O lixo e o esgoto corriam a céu aberto, atraindo insetos e roedores
portadores da peste. Os hábitos de higiene pessoal ofereciam grande risco, pois
os banhos não faziam parte da rotina das pessoas. Além disso, os aglomerados
urbanos contribuíram enormemente para a rápida proliferação da peste. Ao chegar
a uma cidade, a doença se instalava durante um período entre quatro e cinco
meses.
Depois
de ceifar diversas vidas, esses centros urbanos ficavam abandonados. Os que
sobreviviam à doença tinham que, posteriormente, enfrentar a falta de alimentos
e a crise socioeconômica instalada no local. Por isso, muitas cidades tentavam
se precaver da epidemia criando locais de quarentena para os infectados,
impedindo a chegada de transeuntes e dificultando o acesso aos perímetros
urbanos. Sem muitas opções de tratamento, os doentes se apegavam às orações e
rituais que os salvassem da peste negra.
Uma das causas da propagação da peste pela Europa era a falta de higiene |
A
intensidade com que a epidemia afetou os centros urbanos europeus era bastante
variada. Em casos mais extremos, cerca de metade de uma população inteira não
resistia aos efeitos devastadores da epidemia. Estudiosos calculam que cerca de
um terço de toda população europeia teria sucumbido ao terror da peste. Ao
mesmo tempo em que a peste negra era compreendida como um sinal de desgraça,
indicava o colapso de alguns valores e práticas do mundo feudal.
Na
Idade Média, como não havia cura, as pessoas usavam vinagre pra tentar se
defender, tendo em vista que tanto os ratos quanto as pulgas evitam seu cheiro.
O número de mortos era tão grande que eram abertas enormes valas comuns. Com a
descoberta dos antibióticos a doença antes tida como mortal, atualmente é
facilmente controlada. São usados neste caso estreptomicina, tetraciclinas,
clorafenicol, gentamicina e doxiciclina.
A grande fome
Entre
1315 e 1317, a produção agrícola europeia, que já era insuficiente, ficou ainda
mais distante das necessidades alimentares da população. O esgotamento do solo,
as fortes chuvas que castigaram a Europa em 1314 e 1315 e o clima mais frio
foram as principais razões das más colheitas. A epidemia encontrou a população
desnutrida e com o sistema imunológico fragilizado.
A falta de mão-de-obra causou a escassez de alimentos |
As consequências da
peste negra
Diante
do avanço da peste, as pessoas procuravam se isolar. Para isso, as cidades evitavam
a entrada de estranhos, especialmente os oriundos das zonas afetadas.
Testemunhos da época relatam atitudes de solidariedade. Várias pessoas se
ofereciam para cuidar dos doentes ou para enterras os mortos, mesmo sabendo do
riso que corriam.
A
peste provocou a destruição de comunidades inteiras e um grave desequilíbrio
social e econômico. Calcula-se que, até o ano de 1390, a peste tenha vitimado
entre 20 e 25 milhões de europeus, o que equivale a um terço da população do
continente na época.
As
principais consequências dessa tragédia foram a redução ainda maior da
atividade econômica e o desabastecimento, tanto no campo quanto na cidade,
promovendo mais miséria. Mesmo depois de a epidemia abrandar, milhares de
pessoas continuaram morrendo devido à fome.
O poder da Igreja foi diminuída também, o papa que era infalível e sendo o representante de Deus na Terra, não conseguia com seu poder transcendental acabar com a peste na Europa. Isto contribui para os movimentos de contestação de do poder papal no século XVI.
- As Cruzadas
-Feudalismo
-Cisma do Oriente
-Poder da Igreja na Idade Média
- O Grande Cisma do Ocidente
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