terça-feira, 14 de julho de 2015

Anos de Chumbo
No final do governo Castelo Branco, crescia a insatisfação com o regime militar. A volta à “normalidade democrática”, uma promessa dos militares, não se concretizou. Manifestações indicavam o repúdio de setores da sociedade brasileira ao governo. Porém, entre os anos de 1968 e 1974 a ditadura se fortaleceu e se tornou mais severa.

1. A linha dura no poder
Em março de 1967, tomou posse o segundo ditador-presidente militar, o general Artur da Costa e Silva (1967-1969), ex-ministro da Guerra de Castelo Branco. Costa e Silva, não pertencia ao grupo de militares, tidos como os “Intelectuais da Sorbonne”, como seu antecessor. E sim, a parte mais truculenta dos militares, que defendiam o fechamento do regime, e o não retorno do comando da nação, para as nãos para os civis, conhecidos como "linha Dura". A ditadura já contava com sua agência de espionagem, o Serviço Nacional de Informações (SNI), desde junho de 1964, foi criado. Nos estados já contavam com as polícias de repressoras, os DOI-CODIs.


Movimento Estudantil Durante a Ditadura Militar
Entre as principais vozes contra a ditadura estavam os estudantes. Representando a categoria, a UNE promoveu diversas manifestações e passeatas. Os estudantes reivindicavam o aumento de vagas nas universidades públicas, a universalização do ensino gratuito e a melhora do nível e das condições de estudo.
Em 1964, a UNE e as representações locais, atravéz dos DCEs foram colocadas na ilegalidade. Para os militares, os estudantes não passam de ‘jovens baderneiros”, ligados aos partidos de esquerda. Ainda assim atuando na clandestinidade, os estudantes continuaram contestando o regime militar.
Em 28 de março de 1968, o movimento estudantil viveu seu  omento mais dramático. Os estudantes secundaristas do Rio de Janeiro, estavam reunidos, para um protesto contra o preço da comida no restaurante Calabouço. Momentos antes do protesto, a Polícia Militar chegou para acabar com o movimento, os estudantes se refugiaram dentro do restaurante, a polícia invadiu o prédio e um tiro acertou o estudante Edson Luis Souto, que acabou morrendo. 

Após a missa de 7º dia do estudante, no dia 4 de abril, na Igreja da Candelária a cavalaria  da Polícia Militar, atacou quem saia da igreja com golpes de sabre, ferindo dezenas de pessoas. A noite seria realizado outra missa, a qual foi proibida pela polícia. Os padres realizaram com a presença dos fiéis mesmo assim. Temendo novo enfrentamento, os padres saíram a frente dos fiéis, fizeram um isolamento humano, de mão dadas contra a cavalaria, fuzileiros navais e o DOPS, que os esperam no lado de fora.
Passeata dos Cem Mil
Em junho do mesmo ano, os estudantes organizaram no Rio de Janeiro a manifestação que ficou conhecida como a “Passeata dos Cem Mil”, um dos mais significativos atos de repúdio ao regime militar. 
Outra manifestação foi o XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, interior de São Paulo. Mais de mil estudantes compareceram e o encontro foi interrompido pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social). A UNE só voltou a legalidade em 1985.

Os Centros Populares de Cultura (CPC)
Além das greves, passeatas e manifestações diretas contra os governos militares, os estudantes participaram do vida política do país nos CPCs, criado em 1961.
Por meio de atividades artísticas, os CPCs disseminavam a discussão política nos setores populares da sociedade. Pretendia-se, assim, conscientizar a população do que se passava na política brasileira usando o teatro, a música e o cinema.
Costa e silva, 2º ditador do regime militar, pertencia ao
grupo "Linha Dura", que escancarou a ditadura
Endurecimento do regime: O AI-5 e o fechamento político
Em 1968, o deputado Márcio Moreira Alves fez um discurso responsabilizando os militares pela violência contra os movimentos estudantis e propondo o boicote aos desfiles de 7 de setembro daquele ano.  Os militares queriam processá-lo, mas a Câmara dos deputados não permitiu[1]. Em resposta no dia 13 de dezembro de 1968, o Presidente Costa e Silva decretou, mandou publicar e cumprir o Ato Institucional Número 5 (o AI-5). Dava-se início aos anos de chumbo.
Pelo disposto no ato, os militares tinham o direito de decretar o recesso do Congresso, das Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. Foi retirada toda a estabilidade e independência do Poder Judiciário, pois o Executivo poderia mandar suspender habeas-corpus sob a acusação de crime político contra qualquer cidadão em qualquer momento.
AI-5 Golpe dentro do Golpe
A cassação de direitos políticos poderia ser decretada com extrema rapidez e sem burocracia. O direito de defesa ampla ao acusado foi eliminado, suspeitos poderiam ter sua prisão decretada imediatamente, sem necessidade de ordem judicial. Os direitos políticos do cidadão comum foram cancelados e os direitos individuais foram eliminados pela instituição do desacato à autoridade. Foram criadas também em 1968 as Áreas de Segurança Nacional, abrangendo municípios brasileiros, inclusive as capitais estaduais, que perderam sua autonomia e passando a ter prefeitos nomeados pelo governo federal.
O AI-14 em 1969, determinava a pena de morte ou a prisão perpétua para os crimes da “guerra revolucionária e subversiva”.
Em agosto de 1969, o ditador-presidente Costa e Silva sofreu uma trombose cerebral, ficando impossibilitado de continuar no cargo. Os militares impediram que seu vice, o civil Pedro Aleixo, assumisse o poder, organizaram uma junta militar composto por representantes da aeronáutica, marinha e exército, e, indicaram para o cargo o general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), nome o qual o Congresso Nacional acatou.
Médici, pertencente ao grupo linha-dura, era defensor das medidas de combate aos opositores e a repressão. Durante seu governo foram frequentes as violações dos direitos humanos.

A espionagem política e a tortura
O SNI era onde eram catalogados e fichados  todos aqueles considerados inimigos do Estado, que eram considerados perigosos à Segurança Nacional. O SNI coordenava e catalogava todas as informações que poderiam ser relevantes: cidadãos e suas ações eram rastreadas, grampeadas, fotografadas. 
Os CODIs eram os Centros de Operação de Defesa Interna, sendo órgãos de planejamento das ações de defesa. Os DOIs eram os destacamentos de operações de informações surgidos a partir de 1970 no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Belém, Brasília, etc. Seus destacamentos faziam as investigações, buscavam informações e realizavam a busca e apreensão. Os DOIs faziam o trabalho sujo: prisão, interrogatório, tortura e assassinato. Um destes casos, foi o do jornalista de São Paulo, Vladimir Herzog, acusado, foi levado pelo DOI-DODI a prestar depoimento, dias depois a polícia apresentou uma foto, disento que ele havia se suicidado.
No governo do 3º ditador militar, general Médici,
pertencente  a "Linha Dura" o país mergulhou
nos "anos de chumbo"
A ditadura estimulou também a ação de grupos paramilitares de direita, reunindo civis, policiais e militares, como os Comandos de Caça aos Comunistas (CCCs) e os Esquadrões da Morte, que realizavam atentados contra teatros, igrejas, sindicatos, órgãos de imprensa, etc.
Presos políticos que foram trocados pelo embaixador americano Charles Elbrick, embarcando para o exterior, em setembro de 1969.

Tipos de Tortura
Muitos Militares antiamericanos, foram estudar na Escola da Américas (em inglês, School of the Americas) é um instituto do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, fundado em 1946. Em 1961, seu objetivo oficial passou a ser o de ensinar a "formação de contra insurgência anticomunista”. Lá receberam treinamentos para articularem e concluírem os diversos golpes militares da América latina.
Na escola americana, receberam treinamento de técnicas de tortura, a fim de extraírem as informações desejadas. Os torturadores abusavam de choques, porradas e drogas para conseguir informações, são elas:
Dilma Russeff sendo interrogada enquanto
os militares escondem seus rostos
Cadeira do dragão: Nessa espécie de cadeira elétrica, os presos sentavam pelados numa cadeira revestida de zinco ligada a terminais elétricos. Quando o aparelho era ligado na eletricidade, o zinco transmitia choques a todo o corpo. Muitas vezes, os torturadores enfiavam na cabeça da vítima um balde de metal, onde também eram aplicados choques
"Suicídio" de Vladimir Herzog
Pau-de-arara: É uma das mais antigas formas de tortura usadas no Brasil - já existia nos tempos da escravidão. Com uma barra de ferro atravessada entre os punhos e os joelhos, o preso ficava pelado, amarrado e pendurado a cerca de 20 centímetros do chão. Nessa posição que causa dores atrozes no corpo, o preso sofria com choques, pancadas e queimaduras com cigarros
Choques elétricos: As máquinas usadas nessa tortura eram chamadas de "pimentinha" ou "maricota". Elas geravam choques que aumentavam quando a manivela era girada rapidamente pelo torturador. A descarga elétrica causava queimaduras e convulsões - muitas vezes, seu efeito fazia o preso morder violentamente a própria língua
Espancamentos: Vários tipos de agressões físicas eram combinados às outras formas de tortura. Um dos mais cruéis era o popular "telefone". Com as duas mãos em forma de concha, o torturador dava tapas ao mesmo tempo contra os dois ouvidos do preso. A técnica era tão brutal que podia romper os tímpanos do acusado e provocar surdez permanente
Cadeira do dragão
Soro da verdade: O tal soro é o pentotal sódico, uma droga injetável que provoca na vítima um estado de sonolência e reduz as barreiras inibitórias. Sob seu efeito, a pessoa poderia falar coisas que normalmente não contaria - daí o nome "soro da verdade" e seu uso na busca de informações dos presos. Mas seu efeito é pouco confiável e a droga pode até matar
Afogamentos: Os torturadores fechavam as narinas do preso e colocavam uma mangueira ou um tubo de borracha dentro da boca do acusado para obrigá-lo a engolir água. Outro método era mergulhar a cabeça do torturado num balde, tanque ou tambor cheio de água, forçando sua nuca para baixo até o limite do afogamento
Pau de arara
Geladeira: Os presos ficavam pelados numa cela baixa e pequena, que os impedia de ficar de pé. Depois, os torturadores alternavam um sistema de refrigeração superfrio e um sistema de aquecimento que produzia calor insuportável, enquanto alto-falantes emitiam sons irritantes. Os presos ficavam na "geladeira" por vários dias, sem água ou comida.
Abusos sexuais: Uma forma cruel de tortura, afeta tanto o físico quanto o psicológico. Esses abusos eram somados aos espancamentos, xingamentos e muita submissão, muitas vezes além do estupro, homens e mulheres tinham objetos introduzidos em seus corpos.
Tortura psicológica: Considerada por muitos como a forma mais cruel de tortura. Iam desde a humilhação do preso até ameaças de violência contra seus familiares. Mulheres grávidas ou que tinham filhos recém-nascidos, muitas vezes ouviam dos torturadores que nunca mais os veriam. Há também relatos de homens que eram obrigados a assistir a abusos sexuais contra suas mulheres.

Choques elétricos
Resistência e repressão
Formou-se ainda em 1966 a Frente Ampla, com Carlos Lacerda, ex-governador do estado da Guanabara (hoje Rio de Janeiro), que se aliou com os ex-presidentes João Goulart e Juscelino Kubitschek e parte do MDB, que almejavam preparar um bloco de resistência liberal-democrático. Contudo, a Frente Ampla não conseguiu a trair o apoio da população e acabou se extinguindo.
Na verdade, a mobilização popular de expressão contra o regime seria o movimento estudantil. Liderados por dirigentes da União Nacional dos Estudantes (UNE), que atuava na clandestinidade, os estudantes promoviam manifestações e comícios em todas as grandes cidades do país. No dia 27 de outubro de 1964, o Congresso Nacional já havia extinguido a UNE e todas as uniões de estudantes estaduais, aprovando a Lei Suplicy.
O auge dos protestos estudantis se deu a partir da morte do estudante paraense Edson Luís de Lima Souto assassinado pela Polícia Militar em 28 de março de 1968 durante um confronto no restaurante Calabouço, centro do Rio de Janeiro. Edson foi o primeiro estudante assassinado pela Ditadura Militar e sua morte marcou o início de um ano turbulento de intensas mobilizações contra o regime militar.
Centenas de cartazes foram colados na Cinelândia com frases como "Bala mata fome?", "Os velhos no poder, os jovens no caixão" e "Mataram um estudante. E se fosse seu filho?".
Geladeira
Em 26 de junho ocorre a Passeata dos Cem Mil[2], uma manifestação de protesto, em consequência da morte do estudante secundarista Edson Luís. A manifestação reuniu mais de cem mil pessoas, no centro da cidade do Rio de Janeiro, na zona conhecida como Cinelândia, o que representou um dos mais significativos protestos no período ditatorial do Brasil.

A guerrilha urbana
Setores radicais de esquerda começaram a atacar o governo com ações clandestinas armadas, como assaltos a bancos, sequestro de diplomatas e atentados contra autoridades e unidades militares. Muitos dos assaltos as gigantescas instituições capitalistas, que lucravam muito com o egime militar, era destinado a arrecadar fundos, para manter os guerrilheiros. 
Uma das primeiras organizações a pegarem em armas contra a ditadura foi a Ação Libertadora Nacional (ALN), uma organização revolucionária comunista brasileira de oposição ao regime militar, surgida no fim de 1967, com a expulsão de Carlos Marighella do Partido Comunista do Brasil (ex-PCB). A ALN tinha a proposta de uma ação objetiva e imediata contra a ditadura militar, defendendo a luta armada e a guerrilha como instrumento de ação política.
Além da ALN, houve na guerrilha urbana, a VAR-Palmares e o MR-8. A Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) foi uma organização brasileira de esquerda que combateu o regime militar. Surgiu em julho de 1969, como resultado da fusão do Comando de Libertação Nacional (Colina) com a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) de Carlos Lamarca.
O Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) foi uma organização brasileira de esquerda, com orientação marxista-leninista, que participou do combate armado à Ditadura no Brasil. Seu nome rememora a data em que o guerrilheiro argentino Che Guevara foi capturado pela CIA na Bolívia.
As principais ações da guerrilha urbana no Brasil de 1968 a 1970 foram: o assalto ao trem pagador da ferrovia Santos-Jundiaí (10/6/1968), pela ALN; o ataque ao QG do II Exército (26/6/1968), pela VPR; o roubo do cofre de Adhemar de Barros (11/5/1969), contendo pouco mais de 2,8 milhões de dólares, em espécie, o equivalente a 16,2 milhões de dólares de 2007, pela VAR-Palmares; o assassinato do capitão do Exército dos Estados Unidos e suposto agente da CIA Charles Rodney Chandler (12/10/1969), pela VPR; o sequestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick (4/9/1969), pela ALN e o MR-8.
A maioria dos guerrilheiros eram estudantes, com idade média de 23 anos, que haviam se mobilizados nas ruas em 1968. Boa parte havia abandonado as universidades. De cada dez ações de guerrilha, oito buscavam dinheiro, armas, papéis de identidade. As ações mais ofensivas, como os seqüestros de diplomatas, destinavam-se a tirar gente da cadeia ou do país.
A destruição das organizações armadas começou em 1969, a partir da organização das atividades de polícia política dentro do Exército. No final de 1970, todas as organizações da guerrilha urbana estavam desestruturadas.

A guerrilha urbana com o sequestro o embaixador dos EUA
 conseguiu resgatar vários ativistas políticos da prisão
A guerrilha no campo
No campo, a mobilização guerrilheira teve sua maior expressão com a Guerrilha do Araguaia. A Guerrilha do Araguaia foi um conjunto de operações guerrilheiras ocorridas durante a década de 1970. O movimento foi organizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), oriundo de uma cisão no PCB. Os integrantes do PCdoB pretendiam combater o governo militar e implementar o comunismo no Brasil, iniciando o movimento pelo campo.
Os guerrilheiros eram em sua maioria estudantes, professores e profissionais liberais. Os militantes do PCdoB começaram a chegar na região a partir do final da década de 1960. Oriundos do sul e sudeste, eram chamados de “paulistas”.
Estima-se que participaram em torno de setenta a oitenta guerrilheiros sendo que, destes, a maior parte se dirigiu àquela região em torno de 1970. Entre eles, estavam Osvaldo Orlando Costa (o “Osvaldão”), o médico João Carlos Haas Sobrinho, a estudante de biologia da Universidade Federal Fluminense Cristina Moroni de 21 anos, Maria Célia Corrêa, 26 anos, estudante da Faculdade Nacional de Filosofia, além do ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José Genoíno, que foi detido pelo Exército em 1972. Os guerrilheiros se estabeleceram em uma região onde os estados de Goiás, Pará e Maranhão faziam fronteira, às margens do rio Araguaia-Tocantins, próximo às cidades de São Geraldo e Marabá no Pará e de Xambioá, no norte de Goiás (região onde atualmente é o norte do Estado de Tocantins, também denominada como Bico do Papagaio).
Guerrilha no campo, uma forma de resistência ao regime

O Campo de Batalha guerrilheiro.
Logo, procuraram se integrar às comunidades locais. Para isso, faziam seus roçados, montavam farmácias e, de acordo com suas habilidades, ajudavam em partos, faziam cirurgia e dedicavam-se a alfabetização da população local.
Os guerrilheiros criaram a ULDP (União pela Liberdade e pelos Direitos do Povo), onde discutiam as reivindicações de interesse dos moradores locais, sobretudo questões relacionadas à grilagem e repressão, estimulando a consciencia política da população e buscando apoio para a guerrilha. Também se organizaram militarmente com a formação das FORGAs (Forças Guerrilheiras do Araguaia), promovendo treinamentos e ações de guerrilha.
O Exército Brasileiro descobriu a localização do núcleo guerrilheiro em 1971 e fez três investidas contra os rebeldes. Os guerrilheiros, surpreendidos, se refugiaram armados na floresta. As operações de guerrilha iniciaram-se efetivamente em 1972, tendo oferecido resistência até março de 1974.
Em 1972, no primeiro choque com a guerrilha, uma tropa do Exército foi desbaratada. Em 5 de maio, outra tropa foi desbaratada pela guerrilha, um tenente foi ferido e o cabo Odílio Cruz Rosa, da 5ª Companhia de Guardas de Belém foi morto. A guerrilha também atacou uma base do 2° Batalhão de Infantaria de Selva e matou o sargento Mário Abrahim da Silva.
Em janeiro de 1975 as operações foram consideradas oficialmente encerradas com a morte ou detenção da maioria dos guerrilheiros. Em 1976 ocorreu a chamada Chacina da Lapa quando foram executados os últimos dirigentes históricos do PCdoB.

O papel da Igreja
Igreja Católica Apostólica Romana inicialmente saudou o golpe e apoiou a conspiração contra João Goulart um líder imaturo que permitiria o avanço comunista no país. Mas a repressão que se seguiu, inclusive contra militares católicos, forneceu os primeiros sinais de que a aliança entre Igreja e Estado estava se deteriorando.
A Igreja Católica oficial mantinha-se em apoio ao regime civil-militar e suas ações, principalmente com relação à censura de costumes e no combate ao comunismo. O cardeal-arcebispo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer, deu sua benção à censura prévia de publicações principalmente aquilo que consideravam “abusos de prazeres sexuais”. Porém, o grande problema deste apoio católico à censura é que ele ajudava a legitimar tais práticas pelos ditadores.
Porém, enquanto a alta cúpula da Igreja Católica no Brasil apoiava o governo civil-militar, a Teologia da Libertação tinha seu surgimento a partir da realização do Concílio Vaticano II (1962-1965) se firmando após a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (1968), realizado na Colômbia, neste concílio a Teologia da Libertação[3] foi caracterizada como a ideologia cristã apropriada para a realidade latino-americana da época fazendo que parte dos sacerdotes e bispos se aproximasse dos trabalhadores urbanos e rurais em um programa de assistência e de conscientização, assim, foram criadas as bases que possibilitaram aos teólogos da época a afastarem-se de uma teologia eurocêntrica e passassem a realizar uma teologia a partir da realidade em que estavam inseridos.
No Brasil, a forma encontrada para propagar estas ideias foram as Comunidades Eclesiásticas de Base (CEBs) que tinham como objetivo buscar transformar a realidade de determinadas pessoas e suas respectivas comunidades. Os meios de realização deste propósito eram as organizações de mães, os grupos de estudos bíblicos e outras organizações de cunho pastoral, todas essas iniciativas buscavam resolver problemas em conjunto, tendo seu caráter social transformador que ia de encontro ao regime político instalado no pais.
Arcebispo d. Helder Câmara, denunciava
a ditadura militar fora do país e sofria
 perseguição
A década de 1960 foi, para a Teologia da Libertação e as CEBs, a época da gênese de suas esperanças de transformação da realidade. O enfrentamento dos movimentos populares com as forças de repressão do regime foi desigual. O martírio, visto como sinal da “fé verdadeira” foi refletido nas bases como um retorno ao cristianismo antigo. Foi nas comunidades de base que o desenvolvimento pleno da Teologia da Libertação tornou-se possível. Sem elas, a experiência, ou seja, a prática, de uma “igreja dos pobres” não seria possível. Mesmo com as divergências, por parte de historiadores e estudiosos, sobre a existência de uma igreja realmente comprometida com as bases, as experiências de CEBs em todo o país modificaram a paisagem do catolicismo. Uma parcela da Igreja se identificava com os pobres e incentivava uma vivência, entre eles. Essas experiências marcaram uma geração de teólogos, leigos, religiosos e bispos. Para isso, as CEBs proporcionaram o ambiente adequado para a experimentação dessa outra vivência da fé. Essa compreensão do Evangelho e da fé cristã foi repassada às bases, discutida e aprofundada pelos seus partidários e, criticada e atacada pelos seus opositores.
O arcebispo D. Hélder Câmara (PE) e o cardeal D. Paulo Evaristo Arns (SP) faziam críticas públicas e negociavam com membros do governo a libertação de presos políticos. D. Hélder Câmara, participou do Concílio do Vaticano II e aproveitou de seu status no exterior para denunciar fora do Brasil os abusos da ditadura.
O rabino Henry Bobel e o pastor presbiteriano Jaime Wright também agiram em favor da democratização e protestaram contra as práticas autoritárias dos governos militares. Juntamente com D. Evaristo, eles auxiliaram na publicação do livro Brasil: nunca mais, produzido clandestinamente entre 1979 e 1985. Denunciava as torturas e os demais crimes praticados pelo aparelho repressivo durante os 21 anos do regime militar.

A censura
Com a assinatura do AI-5, a censura a imprensa tornou-se implacável. O jornal O Estado de São Paulo teve por diversas vezes seu prédio invadido e suas máquinas para produzir seus jornais paradas por chefes da Polícia Federal. Para deixar claro que atuava sob censura, o jornal publicava receitas culinárias ou versos dos lusíadas, no lugar das notícias censuradas.
Os departamentos de censura, cortavam notícias dos jornais,
no local eram colocados poemas ou receitas culinárias
O Jornal do Brasil teve um de seus diretores preso, o embaixador José Sette Câmara, ex-governador do estado da Guanabara. A censura não permitia que nenhum jornal divulgasse notícias sobre recessão econômica e financeira ou sobre atos terroristas, preparação de guerrilhas, movimentos operários, greves, explosão de bombas, assaltos a bancos, roubo de armas, etc.
O jornal semanário de vanguarda O Pasquim sofreu atentados a bombas e chegou a ter toda a sua redação presa. Outro semanário, o Opinião teve cerca de 5 mil publicações vetadas pela censura. Seu diretor, Fernando Gasparian foi detido, e explodiu-se uma bomba em sua sede.

Música, teatro, televisão e cinema
A música popular também foi utilizada para propagar a resistência contra o regime militar e por consequência eram o principal alvo dos censores. Com uso de metáforas, os compositores e intérpretes expressavam suas críticas.
Salas de teatro com peças consideradas subversivas chegaram a ser invadidas por tropas militares. À TV, principal veículo de comunicação de massa, a ditadura dedicava atenção especial. Algumas telenovelas chegaram a ser interrompidas, pois os censores detectaram nelas críticas ao governo.
No dia 18 de julho de 1968 integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadem o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, espancam o elenco da peça Roda Viva. Em 1969, diversos artistas, como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e Geraldo Vandré sofrem pressões políticas e são obrigados a deixar o país.
No cinema, os roteiros sofriam cortes e proibia-se a exibição de filmes que manifestassem opinião contrariaria à propaganda.


Ufanismo
No adesivo ufanista da década de 1970,  "DEIXE-O" pode
 ser traduzido para irá desaparecer ou morrer
Como o Brasil estava "dando certo", tendo os órgãos de repressão e censura em suas mãos, o regime militar, adotou o que todas as ditaduras adotam. A propaganda política, afim de ter apoio por parte opinião pública. Eram exaltadas as cores da pátrias e as datas cívicas e, principalmente o dia do soldado. Na reforma educacional de 1971, de foi tirado a disciplina de filosofia e acrescentado as disciplinas de Educação Moral e Cívica, 1º Grau, e Organização Social e Política do Brasil (OSPB), 2º Grau. Assim a propagando do regime estava na base curricular das educação brasileira.



[1] A “independência” dos 3 poderes existia, para o deputado ser processado, deveria antes ser cassado. O mandato de Moreira Alves foi “julgado” pela Câmara e não foi cassado.
[2] Passeata dos cem mil no centro do Rio de Janeiro, em julho de 1968, foi o alto da mobilização estudantil.
[3] Porém, é importante ressaltar que a Teologia da Libertação não surgiu como simples teoria, mas como uma teoria orientada para a prática. Teologicamente a Teologia da Libertação fez uma análise histórica e social da realidade em que a comunidade está inserida, porém, sem abandonar seu caráter cristocêntrico, ou seja, apesar da análise ser feita a partir da realidade dos pobres, seu caráter é cristão e centrado na figura e nos ensinos de Jesus Cristo.

 "Alguns religiosos inicialmente conservadores sofreram um processo de transformação e aderiram à Teologia da Libertação, como D. Cardeal Paulo Evaristo Arns, em São Paulo, que foi o principal defensor dos Direitos Humanos no Brasil durante a ditadura militar e reconhecido internacionalmente por sua ação." (JURKEVICS, 2005, p. 3). A Teologia da Libertação foi fundamental no processo de conscientização das populações marginalizadas, os teólogos da libertação, ao apoiarem as populações carentes, possibilitaram que estas se organizassem através de formas "alternativas" de protestos e reivindicações, lutando por melhores condições de vida, alterando sutilmente, as mais duras formas de censura e repressão impostas pela ditadura. Neste sentido, o apoio das Comunidades Eclesiásticas de Base (CEBs) foi capital sobre três planos: simbólico, político e material. No plano simbólico ela legitimou e deu razão aos movimentos anti-ditatoriais; sobre o plano político ela protegeu e abrigou os perseguidos da ditadura e; sobre o plano material ela forneceu as condições técnicas e ideológicas, tais como pessoal tecnicamente e intelectualmente preparadas para trabalhar junto às comunidades.






-Golpe Militar de 1964
-Economia Durante a Ditadura Militar
-Cultura Durante o regime Militar
-Revolução Cubana

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