No
final do governo Castelo Branco, crescia a insatisfação com o regime militar. A
volta à “normalidade democrática”, uma promessa dos militares, não se
concretizou. Manifestações indicavam o repúdio de setores da sociedade
brasileira ao governo. Porém, entre os anos de 1968 e 1974 a ditadura se
fortaleceu e se tornou mais severa.
1. A linha dura no
poder
Em
março de 1967, tomou posse o segundo ditador-presidente militar, o general Artur da
Costa e Silva (1967-1969), ex-ministro da Guerra de Castelo Branco. Costa e
Silva, não pertencia ao grupo de militares, tidos como os “Intelectuais da Sorbonne”,
como seu antecessor. E sim, a parte mais truculenta dos militares, que
defendiam o fechamento do regime, e o não retorno do comando da nação, para as nãos para os
civis, conhecidos como "linha Dura". A ditadura já contava com sua agência de espionagem, o Serviço Nacional de Informações (SNI), desde junho de 1964, foi criado. Nos estados já contavam com as polícias de repressoras, os DOI-CODIs.
Em junho do mesmo ano, os estudantes organizaram no Rio de Janeiro a manifestação que ficou conhecida como a “Passeata dos Cem Mil”, um dos mais significativos atos de repúdio ao regime militar.
Movimento Estudantil Durante a Ditadura Militar
Entre as principais vozes contra a ditadura estavam os estudantes. Representando a categoria, a UNE promoveu diversas manifestações e passeatas. Os estudantes reivindicavam o aumento de vagas nas universidades públicas, a universalização do ensino gratuito e a melhora do nível e das condições de estudo.
Em 1964, a UNE e as representações locais, atravéz dos DCEs foram colocadas na ilegalidade. Para os militares, os estudantes não passam de ‘jovens baderneiros”, ligados aos partidos de esquerda. Ainda assim atuando na clandestinidade, os estudantes continuaram contestando o regime militar.
Em 28 de março de 1968, o movimento estudantil viveu seu omento mais dramático. Os estudantes secundaristas do Rio de Janeiro, estavam reunidos, para um protesto contra o preço da comida no restaurante Calabouço. Momentos antes do protesto, a Polícia Militar chegou para acabar com o movimento, os estudantes se refugiaram dentro do restaurante, a polícia invadiu o prédio e um tiro acertou o estudante Edson Luis Souto, que acabou morrendo.
Após a missa de 7º dia do estudante, no dia 4 de abril, na Igreja da Candelária a cavalaria da Polícia Militar, atacou quem saia da igreja com golpes de sabre, ferindo dezenas de pessoas. A noite seria realizado outra missa, a qual foi proibida pela polícia. Os padres realizaram com a presença dos fiéis mesmo assim. Temendo novo enfrentamento, os padres saíram a frente dos fiéis, fizeram um isolamento humano, de mão dadas contra a cavalaria, fuzileiros navais e o DOPS, que os esperam no lado de fora.
Passeata dos Cem Mil |
Outra manifestação foi o XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, interior de São Paulo. Mais de mil estudantes compareceram e o encontro foi interrompido pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social). A UNE só voltou a legalidade em 1985.
Os Centros Populares de Cultura (CPC)
Além das greves, passeatas e manifestações diretas contra os governos militares, os estudantes participaram do vida política do país nos CPCs, criado em 1961.
Por meio de atividades artísticas, os CPCs disseminavam a discussão política nos setores populares da sociedade. Pretendia-se, assim, conscientizar a população do que se passava na política brasileira usando o teatro, a música e o cinema.
Costa e silva, 2º ditador do regime militar, pertencia ao grupo "Linha Dura", que escancarou a ditadura |
Em
1968, o deputado Márcio Moreira Alves fez um discurso responsabilizando os
militares pela violência contra os movimentos estudantis e propondo o boicote
aos desfiles de 7 de setembro daquele ano.
Os militares queriam processá-lo, mas a Câmara dos deputados não
permitiu[1]. Em resposta no dia 13 de dezembro
de 1968, o Presidente Costa e Silva decretou, mandou publicar e cumprir o Ato
Institucional Número 5 (o AI-5). Dava-se início aos anos de chumbo.
Pelo
disposto no ato, os militares tinham o direito de decretar o recesso do
Congresso, das Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. Foi retirada toda
a estabilidade e independência do Poder Judiciário, pois o Executivo poderia
mandar suspender habeas-corpus sob a acusação de crime político contra qualquer
cidadão em qualquer momento.
AI-5 Golpe dentro do Golpe |
O AI-14 em 1969, determinava a pena de morte ou a prisão perpétua para os crimes da “guerra
revolucionária e subversiva”.
Em agosto de 1969, o ditador-presidente Costa e Silva sofreu uma trombose cerebral, ficando impossibilitado de continuar no cargo. Os militares impediram que seu vice, o civil Pedro Aleixo, assumisse o poder, organizaram uma junta militar composto por representantes da aeronáutica, marinha e exército, e, indicaram para o cargo o general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), nome o qual o Congresso Nacional acatou.
Médici, pertencente ao grupo linha-dura, era defensor das medidas de combate aos opositores e a repressão. Durante seu governo foram frequentes as violações dos direitos humanos.
A espionagem política e a tortura
O SNI era onde eram catalogados e fichados todos aqueles considerados inimigos do Estado, que eram considerados perigosos à Segurança Nacional. O SNI coordenava e catalogava todas as informações que poderiam ser relevantes: cidadãos e suas ações eram rastreadas, grampeadas, fotografadas.
Os CODIs eram os Centros de Operação de Defesa Interna, sendo órgãos de planejamento das ações de defesa. Os DOIs eram os destacamentos de operações de informações surgidos a partir de 1970 no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Belém, Brasília, etc. Seus destacamentos faziam as investigações, buscavam informações e realizavam a busca e apreensão. Os DOIs faziam o trabalho sujo: prisão, interrogatório, tortura e assassinato. Um destes casos, foi o do jornalista de São Paulo, Vladimir Herzog, acusado, foi levado pelo DOI-DODI a prestar depoimento, dias depois a polícia apresentou uma foto, disento que ele havia se suicidado.
O SNI era onde eram catalogados e fichados todos aqueles considerados inimigos do Estado, que eram considerados perigosos à Segurança Nacional. O SNI coordenava e catalogava todas as informações que poderiam ser relevantes: cidadãos e suas ações eram rastreadas, grampeadas, fotografadas.
Os CODIs eram os Centros de Operação de Defesa Interna, sendo órgãos de planejamento das ações de defesa. Os DOIs eram os destacamentos de operações de informações surgidos a partir de 1970 no Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Belém, Brasília, etc. Seus destacamentos faziam as investigações, buscavam informações e realizavam a busca e apreensão. Os DOIs faziam o trabalho sujo: prisão, interrogatório, tortura e assassinato. Um destes casos, foi o do jornalista de São Paulo, Vladimir Herzog, acusado, foi levado pelo DOI-DODI a prestar depoimento, dias depois a polícia apresentou uma foto, disento que ele havia se suicidado.
No governo do 3º ditador militar, general Médici, pertencente a "Linha Dura" o país mergulhou nos "anos de chumbo" |
Presos
políticos que foram trocados pelo embaixador americano Charles Elbrick,
embarcando para o exterior, em setembro de 1969.
Tipos de Tortura
Muitos Militares antiamericanos, foram estudar na Escola da Américas (em inglês, School of the Americas) é um instituto do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, fundado em 1946. Em 1961, seu objetivo oficial passou a ser o de ensinar a "formação de contra insurgência anticomunista”. Lá receberam treinamentos para articularem e concluírem os diversos golpes militares da América latina.
Muitos Militares antiamericanos, foram estudar na Escola da Américas (em inglês, School of the Americas) é um instituto do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, fundado em 1946. Em 1961, seu objetivo oficial passou a ser o de ensinar a "formação de contra insurgência anticomunista”. Lá receberam treinamentos para articularem e concluírem os diversos golpes militares da América latina.
Na
escola americana, receberam treinamento de técnicas de tortura, a fim de extraírem
as informações desejadas. Os torturadores abusavam de choques, porradas e drogas
para conseguir informações, são elas:
Dilma Russeff sendo interrogada enquanto os militares escondem seus rostos |
"Suicídio" de Vladimir Herzog |
Choques elétricos: As máquinas usadas nessa tortura
eram chamadas de "pimentinha" ou "maricota". Elas geravam
choques que aumentavam quando a manivela era girada rapidamente pelo
torturador. A descarga elétrica causava queimaduras e convulsões - muitas
vezes, seu efeito fazia o preso morder violentamente a própria língua
Espancamentos: Vários tipos de agressões físicas
eram combinados às outras formas de tortura. Um dos mais cruéis era o popular
"telefone". Com as duas mãos em forma de concha, o torturador dava
tapas ao mesmo tempo contra os dois ouvidos do preso. A técnica era tão brutal
que podia romper os tímpanos do acusado e provocar surdez permanente
Cadeira do dragão |
Afogamentos: Os torturadores fechavam as narinas
do preso e colocavam uma mangueira ou um tubo de borracha dentro da boca do
acusado para obrigá-lo a engolir água. Outro método era mergulhar a cabeça do
torturado num balde, tanque ou tambor cheio de água, forçando sua nuca para baixo
até o limite do afogamento
Pau de arara |
Abusos sexuais: Uma forma cruel de tortura, afeta
tanto o físico quanto o psicológico. Esses abusos eram somados aos
espancamentos, xingamentos e muita submissão, muitas vezes além do estupro,
homens e mulheres tinham objetos introduzidos em seus corpos.
Tortura psicológica: Considerada por muitos como a
forma mais cruel de tortura. Iam desde a humilhação do preso até ameaças de
violência contra seus familiares. Mulheres grávidas ou que tinham filhos
recém-nascidos, muitas vezes ouviam dos torturadores que nunca mais os veriam.
Há também relatos de homens que eram obrigados a assistir a abusos sexuais
contra suas mulheres.
Choques elétricos |
Formou-se ainda em 1966 a Frente Ampla, com Carlos Lacerda, ex-governador do estado da Guanabara (hoje Rio de Janeiro), que se aliou com os ex-presidentes João Goulart e Juscelino Kubitschek e parte do MDB, que almejavam preparar um bloco de resistência liberal-democrático. Contudo, a Frente Ampla não conseguiu a trair o apoio da população e acabou se extinguindo.
Na
verdade, a mobilização popular de expressão contra o regime seria o movimento
estudantil. Liderados por dirigentes da União Nacional dos Estudantes (UNE),
que atuava na clandestinidade, os estudantes promoviam manifestações e comícios
em todas as grandes cidades do país. No dia 27 de outubro de 1964, o Congresso
Nacional já havia extinguido a UNE e todas as uniões de estudantes estaduais,
aprovando a Lei Suplicy.
O
auge dos protestos estudantis se deu a partir da morte do estudante paraense
Edson Luís de Lima Souto assassinado pela Polícia Militar em 28 de março de
1968 durante um confronto no restaurante Calabouço, centro do Rio de Janeiro.
Edson foi o primeiro estudante assassinado pela Ditadura Militar e sua morte
marcou o início de um ano turbulento de intensas mobilizações contra o regime
militar.
Centenas
de cartazes foram colados na Cinelândia com frases como "Bala mata
fome?", "Os velhos no poder, os jovens no caixão" e
"Mataram um estudante. E se fosse seu filho?".
Geladeira |
A guerrilha urbana
Setores radicais de esquerda começaram a atacar o governo com ações clandestinas armadas, como assaltos a bancos, sequestro de diplomatas e atentados contra autoridades e unidades militares. Muitos dos assaltos as gigantescas instituições capitalistas, que lucravam muito com o egime militar, era destinado a arrecadar fundos, para manter os guerrilheiros.
Setores radicais de esquerda começaram a atacar o governo com ações clandestinas armadas, como assaltos a bancos, sequestro de diplomatas e atentados contra autoridades e unidades militares. Muitos dos assaltos as gigantescas instituições capitalistas, que lucravam muito com o egime militar, era destinado a arrecadar fundos, para manter os guerrilheiros.
Uma
das primeiras organizações a pegarem em armas contra a ditadura foi a Ação
Libertadora Nacional (ALN), uma organização revolucionária comunista brasileira
de oposição ao regime militar, surgida no fim de 1967, com a expulsão de Carlos
Marighella do Partido Comunista do Brasil (ex-PCB). A ALN tinha a proposta de
uma ação objetiva e imediata contra a ditadura militar, defendendo a luta
armada e a guerrilha como instrumento de ação política.
Além
da ALN, houve na guerrilha urbana, a VAR-Palmares e o MR-8. A Vanguarda Armada
Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) foi uma organização brasileira de
esquerda que combateu o regime militar. Surgiu em julho de 1969, como resultado
da fusão do Comando de Libertação Nacional (Colina) com a Vanguarda Popular
Revolucionária (VPR) de Carlos Lamarca.
O
Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR8) foi uma organização brasileira de
esquerda, com orientação marxista-leninista, que participou do combate armado à
Ditadura no Brasil. Seu nome rememora a data em que o guerrilheiro argentino
Che Guevara foi capturado pela CIA na Bolívia.
As
principais ações da guerrilha urbana no Brasil de 1968 a 1970 foram: o assalto
ao trem pagador da ferrovia Santos-Jundiaí (10/6/1968), pela ALN; o ataque ao
QG do II Exército (26/6/1968), pela VPR; o roubo do cofre de Adhemar de Barros
(11/5/1969), contendo pouco mais de 2,8 milhões de dólares, em espécie, o
equivalente a 16,2 milhões de dólares de 2007, pela VAR-Palmares; o assassinato
do capitão do Exército dos Estados Unidos e suposto agente da CIA Charles
Rodney Chandler (12/10/1969), pela VPR; o sequestro do embaixador
norte-americano Charles Burke Elbrick (4/9/1969), pela ALN e o MR-8.
A
maioria dos guerrilheiros eram estudantes, com idade média de 23 anos, que
haviam se mobilizados nas ruas em 1968. Boa parte havia abandonado as
universidades. De cada dez ações de guerrilha, oito buscavam dinheiro, armas,
papéis de identidade. As ações mais ofensivas, como os seqüestros de
diplomatas, destinavam-se a tirar gente da cadeia ou do país.
A
destruição das organizações armadas começou em 1969, a partir da organização
das atividades de polícia política dentro do Exército. No final de 1970, todas
as organizações da guerrilha urbana estavam desestruturadas.
A guerrilha urbana com o sequestro o embaixador dos EUA conseguiu resgatar vários ativistas políticos da prisão |
No
campo, a mobilização guerrilheira teve sua maior expressão com a Guerrilha do
Araguaia. A Guerrilha do Araguaia foi um conjunto de operações guerrilheiras
ocorridas durante a década de 1970. O movimento foi organizado pelo Partido
Comunista do Brasil (PCdoB), oriundo de uma cisão no PCB. Os integrantes do
PCdoB pretendiam combater o governo militar e implementar o comunismo no
Brasil, iniciando o movimento pelo campo.
Os
guerrilheiros eram em sua maioria estudantes, professores e profissionais
liberais. Os militantes do PCdoB começaram a chegar na região a partir do final
da década de 1960. Oriundos do sul e sudeste, eram chamados de “paulistas”.
Estima-se
que participaram em torno de setenta a oitenta guerrilheiros sendo que, destes,
a maior parte se dirigiu àquela região em torno de 1970. Entre eles, estavam
Osvaldo Orlando Costa (o “Osvaldão”), o médico João Carlos Haas Sobrinho, a
estudante de biologia da Universidade Federal Fluminense Cristina Moroni de 21
anos, Maria Célia Corrêa, 26 anos, estudante da Faculdade Nacional de
Filosofia, além do ex-presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), José
Genoíno, que foi detido pelo Exército em 1972. Os guerrilheiros se estabeleceram
em uma região onde os estados de Goiás, Pará e Maranhão faziam fronteira, às
margens do rio Araguaia-Tocantins, próximo às cidades de São Geraldo e Marabá
no Pará e de Xambioá, no norte de Goiás (região onde atualmente é o norte do
Estado de Tocantins, também denominada como Bico do Papagaio).
O Campo de Batalha
guerrilheiro.
Logo,
procuraram se integrar às comunidades locais. Para isso, faziam seus roçados,
montavam farmácias e, de acordo com suas habilidades, ajudavam em partos,
faziam cirurgia e dedicavam-se a alfabetização da população local.
Os
guerrilheiros criaram a ULDP (União pela Liberdade e pelos Direitos do Povo),
onde discutiam as reivindicações de interesse dos moradores locais, sobretudo
questões relacionadas à grilagem e repressão, estimulando a consciencia
política da população e buscando apoio para a guerrilha. Também se organizaram
militarmente com a formação das FORGAs (Forças Guerrilheiras do Araguaia),
promovendo treinamentos e ações de guerrilha.
O
Exército Brasileiro descobriu a localização do núcleo guerrilheiro em 1971 e fez
três investidas contra os rebeldes. Os guerrilheiros, surpreendidos, se
refugiaram armados na floresta. As operações de guerrilha iniciaram-se
efetivamente em 1972, tendo oferecido resistência até março de 1974.
Em
1972, no primeiro choque com a guerrilha, uma tropa do Exército foi
desbaratada. Em 5 de maio, outra tropa foi desbaratada pela guerrilha, um
tenente foi ferido e o cabo Odílio Cruz Rosa, da 5ª Companhia de Guardas de
Belém foi morto. A guerrilha também atacou uma base do 2° Batalhão de Infantaria
de Selva e matou o sargento Mário Abrahim da Silva.
Em
janeiro de 1975 as operações foram consideradas oficialmente encerradas com a
morte ou detenção da maioria dos guerrilheiros. Em 1976 ocorreu a chamada
Chacina da Lapa quando foram executados os últimos dirigentes históricos do
PCdoB.
O papel da Igreja
A
Igreja Católica oficial mantinha-se em apoio ao regime civil-militar e suas
ações, principalmente com relação à censura de costumes e no combate ao
comunismo. O cardeal-arcebispo de Porto Alegre, Dom Vicente Scherer, deu sua
benção à censura prévia de publicações principalmente aquilo que consideravam
“abusos de prazeres sexuais”. Porém, o grande problema deste apoio católico à censura
é que ele ajudava a legitimar tais práticas pelos ditadores.
Porém,
enquanto a alta cúpula da Igreja Católica no Brasil apoiava o governo
civil-militar, a Teologia da Libertação tinha seu surgimento a partir da
realização do Concílio Vaticano II (1962-1965) se firmando após a Conferência
Geral do Episcopado Latino-Americano (1968), realizado na Colômbia, neste concílio
a Teologia da Libertação[3] foi caracterizada como a
ideologia cristã apropriada para a realidade latino-americana da época fazendo que
parte dos sacerdotes e bispos se aproximasse dos trabalhadores urbanos e rurais
em um programa de assistência e de conscientização, assim, foram criadas as
bases que possibilitaram aos teólogos da época a afastarem-se de uma teologia
eurocêntrica e passassem a realizar uma teologia a partir da realidade em que
estavam inseridos.
No
Brasil, a forma encontrada para propagar estas ideias foram as Comunidades
Eclesiásticas de Base (CEBs) que tinham como objetivo buscar transformar a
realidade de determinadas pessoas e suas respectivas comunidades. Os meios de
realização deste propósito eram as organizações de mães, os grupos de estudos
bíblicos e outras organizações de cunho pastoral, todas essas iniciativas
buscavam resolver problemas em conjunto, tendo seu caráter social transformador
que ia de encontro ao regime político instalado no pais.
Arcebispo d. Helder Câmara, denunciava a ditadura militar fora do país e sofria perseguição |
A
década de 1960 foi, para a Teologia da Libertação e as CEBs, a época da gênese
de suas esperanças de transformação da realidade. O enfrentamento dos
movimentos populares com as forças de repressão do regime foi desigual. O
martírio, visto como sinal da “fé verdadeira” foi refletido nas bases como um
retorno ao cristianismo antigo. Foi nas comunidades de base que o
desenvolvimento pleno da Teologia da Libertação tornou-se possível. Sem elas, a
experiência, ou seja, a prática, de uma “igreja dos pobres” não seria possível.
Mesmo com as divergências, por parte de historiadores e estudiosos, sobre a
existência de uma igreja realmente comprometida com as bases, as experiências
de CEBs em todo o país modificaram a paisagem do catolicismo. Uma parcela da
Igreja se identificava com os pobres e incentivava uma vivência, entre eles.
Essas experiências marcaram uma geração de teólogos, leigos, religiosos e
bispos. Para isso, as CEBs proporcionaram o ambiente adequado para a
experimentação dessa outra vivência da fé. Essa compreensão do Evangelho e da
fé cristã foi repassada às bases, discutida e aprofundada pelos seus
partidários e, criticada e atacada pelos seus opositores.
O
arcebispo D. Hélder Câmara (PE) e o cardeal D. Paulo Evaristo Arns (SP) faziam
críticas públicas e negociavam com membros do governo a libertação de presos
políticos. D. Hélder Câmara, participou do Concílio do Vaticano II e aproveitou
de seu status no exterior para denunciar fora do Brasil os abusos da ditadura.
O
rabino Henry Bobel e o pastor presbiteriano Jaime Wright também agiram em favor
da democratização e protestaram contra as práticas autoritárias dos governos
militares. Juntamente com D. Evaristo, eles auxiliaram na publicação do livro
Brasil: nunca mais, produzido clandestinamente entre 1979 e 1985. Denunciava as
torturas e os demais crimes praticados pelo aparelho repressivo durante os 21
anos do regime militar.
A censura
Com
a assinatura do AI-5, a censura a imprensa tornou-se implacável. O jornal O
Estado de São Paulo teve por diversas vezes seu prédio invadido e suas máquinas
para produzir seus jornais paradas por chefes da Polícia Federal. Para deixar
claro que atuava sob censura, o jornal publicava receitas culinárias ou versos
dos lusíadas, no lugar das notícias censuradas.
Os departamentos de censura, cortavam notícias dos jornais, no local eram colocados poemas ou receitas culinárias |
O
jornal semanário de vanguarda O Pasquim sofreu atentados a bombas e chegou a
ter toda a sua redação presa. Outro semanário, o Opinião teve cerca de 5 mil
publicações vetadas pela censura. Seu diretor, Fernando Gasparian foi detido, e
explodiu-se uma bomba em sua sede.
Música, teatro,
televisão e cinema
A
música popular também foi utilizada para propagar a resistência contra o regime
militar e por consequência eram o principal alvo dos censores. Com uso de
metáforas, os compositores e intérpretes expressavam suas críticas.
Salas
de teatro com peças consideradas subversivas chegaram a ser invadidas por
tropas militares. À TV, principal veículo de comunicação de massa, a ditadura
dedicava atenção especial. Algumas telenovelas chegaram a ser interrompidas,
pois os censores detectaram nelas críticas ao governo.
No
dia 18 de julho de 1968 integrantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC)
invadem o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, espancam o elenco da peça Roda
Viva. Em 1969, diversos artistas, como Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso
e Geraldo Vandré sofrem pressões políticas e são obrigados a deixar o país.
No
cinema, os roteiros sofriam cortes e proibia-se a exibição de filmes que
manifestassem opinião contrariaria à propaganda.
Como o Brasil estava "dando certo", tendo os órgãos de repressão e censura em suas mãos, o regime militar, adotou o que todas as ditaduras adotam. A propaganda política, afim de ter apoio por parte opinião pública. Eram exaltadas as cores da pátrias e as datas cívicas e, principalmente o dia do soldado. Na reforma educacional de 1971, de foi tirado a disciplina de filosofia e acrescentado as disciplinas de Educação Moral e Cívica, 1º Grau, e Organização Social e Política do Brasil (OSPB), 2º Grau. Assim a propagando do regime estava na base curricular das educação brasileira.
Ufanismo
No adesivo ufanista da década de 1970, "DEIXE-O" pode ser traduzido para irá desaparecer ou morrer |
[1] A “independência” dos 3 poderes
existia, para o deputado ser processado, deveria antes ser cassado. O mandato
de Moreira Alves foi “julgado” pela Câmara e não foi cassado.
[2] Passeata dos cem mil no centro do
Rio de Janeiro, em julho de 1968, foi o alto da mobilização estudantil.
[3]
Porém, é importante ressaltar
que a Teologia da Libertação não surgiu como simples teoria, mas como uma
teoria orientada para a prática. Teologicamente a Teologia da Libertação fez
uma análise histórica e social da realidade em que a comunidade está inserida,
porém, sem abandonar seu caráter cristocêntrico, ou seja, apesar da análise ser
feita a partir da realidade dos pobres, seu caráter é cristão e centrado na
figura e nos ensinos de Jesus Cristo.
"Alguns religiosos inicialmente
conservadores sofreram um processo de transformação e aderiram à Teologia da
Libertação, como D. Cardeal Paulo Evaristo Arns, em São Paulo, que foi o
principal defensor dos Direitos Humanos no Brasil durante a ditadura militar e
reconhecido internacionalmente por sua ação." (JURKEVICS, 2005, p. 3). A
Teologia da Libertação foi fundamental no processo de conscientização das
populações marginalizadas, os teólogos da libertação, ao apoiarem as populações
carentes, possibilitaram que estas se organizassem através de formas
"alternativas" de protestos e reivindicações, lutando por melhores
condições de vida, alterando sutilmente, as mais duras formas de censura e
repressão impostas pela ditadura. Neste sentido, o apoio das Comunidades
Eclesiásticas de Base (CEBs) foi capital sobre três planos: simbólico, político
e material. No plano simbólico ela legitimou e deu razão aos movimentos
anti-ditatoriais; sobre o plano político ela protegeu e abrigou os perseguidos
da ditadura e; sobre o plano material ela forneceu as condições técnicas e
ideológicas, tais como pessoal tecnicamente e intelectualmente preparadas para
trabalhar junto às comunidades.
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