O Iluminismo
A partir do século XVIII[1], devido às transformações
ocorridas anteriormente, em que o misticismo e o espiritualismo cederam lugar
ao raciocínio lógico[2], influenciou muitos
filósofos a questionar o mundo em que estavam inseridos. Os autores referem-se
ao Iluminismo[3]
como a época do esclarecimento[4], já que tinha como
objetivo de levar as luzes para as pessoas e para a sociedade, ou seja, levar a
inteligência e a racionalidade para o pensamento humano.
Os filósofos iluministas afirmavam que, pela razão, o
ser humano poderia conquistar a liberdade e a felicidade. Mas para chegar a
isto, deveria se libertar de toda a forma de superstição, de preconceito, de medo[5]. Portanto, a base do
pensamento iluminista é a valorização da razão humana como fonte de
conhecimento. Essa postura diante dos fatos recebeu o nome de racionalismo.
Uma das principais características do Iluminismo era a
crença de que as ideias só teriam valor se fossem capazes de promover mudanças
na situação vigente. Surgiram críticas ao poder absoluto dos reis, ao
mercantilismo e ao domínio colonial. Os iluministas defendiam a liberdade, a
tolerância e a igualdade dos indivíduos perante a lei. Os iluministas
pretendiam reorganizar o mundo com base na razão. Sua intenção não era de fazer
apenas pequenas mudanças, mas de modificar a base sobre a qual organizava a
sociedade até então. Os ideais iluministas se estenderam também até à política
e à economia e à análise social.
1. O Iluminismo e o saber científico e filosófico
Os ideais iluministas estimularam a realização de
experimentos científicos, influenciaram as artes, levaram o surgimento de
clubes e sociedades, além de outras ações voltadas para a difusão e o debate do
conhecimento[6].
Os iluministas franceses decidiram reunir e publicar entre os anos de 1751 à
1780 todo o saber científico, técnico, histórico, musical e literário do séc.
XVIII com o objetivo de divulgar os princípios iluministas na conhecida
Enciclopédia. Seus organizadores foram o escritor Diderot (1713-84) e o
matemático D’Alembert (1717-83).
O inglês Isaac Newton (1642-1727) é considerado o
fundador da Física Mecânica clássica, identificou, em seus rigorosos estudos
sobre o movimento dos planetas, o princípio da gravidade universal e
estabeleceu explicações que justificavam a ideia de que o Universo seria
possivelmente governado por leis físicas, e não por leis divinas[7].
O filósofo e matemático René Descartes (1596-1650) foi
autor de um importante livro chamado “Discurso do Método”. Nesta obra, defende
a tese de que a dúvida é o primeiro passo no processo de construção do conhecimento.
Também criou um método de estudo da natureza baseado na razão, que ficou
conhecido como “método cartesiano”. A frase “Penso, logo existo. ”, atribuído a
ele, resume bem sua tese, pois mostra o grande valor dado a mente humana. Usava
como simbologia uma árvore, que segundo ele o tronco seria a filosofia, e os
diversos ramos dela o saber, todos alimentados pela matemática. Descartes
instaura uma postura filosófica que não admitia milagres, e sim um entendimento
racional do mundo.
2. O Iluminismo na política e na economia
Um dos principais alvos de crítica dos Iluministas era
a monarquia absolutista[8]. John Locke (1632-1704) é
o autor do “Segundo Tratado do Governo Civil” e de “Ensaio sobre o Entendimento
Humano”, foi um dos primeiros filósofos a contestar o absolutismo, fundando o
liberalismo político. Defendia a ideia de que a vida, a liberdade e a propriedade
privada eram direitos naturais[9] dos seres humanos. Desta
forma, os governos seriam um contrato social entre as partes, para preservação
destes direitos. Assim sendo, se algum governo não cumprisse tais princípios,
caberá a população a troca deste governo. O Estado não era patrimônio pessoal e
exclusivo monárquico. Este, por sua vez, deveria compartilhar o poder de
decisão sobre os assuntos de interesse comum com os representantes dos
proprietários de terras reunidos no parlamento.
Barão de Montesquieu (1689-1775), em seu livro “O
Espírito das Leis”, pregava o governo controlado pelo parlamento, não apenas
pelo monarca. Também desenvolveu a teoria da separação e independência dos
poderes do Estado entre Legislativo, Executivo e Judiciário. Para ele, esta divisão
impediria que algum poder quisesse se sobrepor aos demais.
Voltaire (1694-1778), pensador que se destacou nas
atividades de panfletário, contista, historiador, poeta e dramaturgo, ganhou
fama por causa das vibrantes críticas que fez contra a Igreja e a censura de
seu tempo. É sua a frase: “Não concordo com nenhuma das palavras que você diz,
mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las. ” Entretanto, não
acreditava em um governo de base popular. Em seu livro “Cartas Inglesas”, ele
defendia uma monarquia que respeitasse os direitos individuais e na qual o rei fosse
um homem “esclarecido”.
Porém o maior crítico a antiga ordem era Jean -Jacques
Rousseau (1712-78), autor das obras “Contato Social” e “Emílio”[10], entre outras. Ele é a
favor de um governo popular no lugar da monarquia absolutista, por este motivo
ficou conhecido como o pai da democracia moderna. Suas ideias tiveram grande
aceitação entre as camadas populares e a pequena burguesia europeia,
especialmente quando defendia que a nova sociedade deveria ser composta,
fundamentalmente, de pequenos proprietários de terras e que o povo deveria
exercer sua autoridade diretamente, sem intermediários.
O escocês Adam Smith (1723-90) escreveu “Uma
investigação da Natureza e das Causas da Riqueza das Nações”, para ele a
riqueza das nações era gerada pelo trabalho[11], exercido por indivíduos
livres. Pare ele a forte intervenção do estado na economia praticado no
mercantilismo, atrapalhava o desenvolvimento da economia, enquanto a livre
concorrência, a divisão do trabalho e o livre comércio eram considerados
indispensáveis para a economia das nações visando facilitar o desenvolvimento
normal dessas leis[12].
O despotismo esclarecido
Diversos monarcas[13] europeus, influenciados
pela parte mais técnica das ideias iluministas, implantarem reformas sociais,
econômicas e políticas na administração de seus reinos. Buscaram racionalizar a
administração e aplicar a igualdade de impostos para todas as camadas sociais,
além de incentivar a educação e a produção artística. Também foram feitas
reformas na Justiça. A atividade manufatureira foi estimulada e, em alguns
Estados, a servidão abolida. Apesar das reformas, o caráter autoritário dos
governos absolutistas foi mantido em muitos lugares, pois os monarcas não
concordavam em dividir o poder ou eliminar privilégios. A nobreza também não
perdeu o seu lugar de destaque na sociedade. Por isso, esse tipo de governo
ficou conhecido como despotismo esclarecido.
O despotismo esclarecido visava acelerar o processo de
modernização de alguns países e assim aumentar seu poder e prestígio a fim de
enfraquecer a oposição ao seu governo. Argumentam que governam em nome da
felicidade dos povos. Muitas reformas promovidas pelos déspotas esclarecidos
tiveram vida curta. A maioria foi anulada pelos seus sucessores.
Na Espanha e em Portugal, o despotismo esclarecido
influenciou a forma de administrar as suas possessões americanas, centralizando
o poder, expulsando os jesuítas e criando companhias de comércio para
incentivar a diversificação das atividades econômicas. Tudo isso visando a ampliação
da arrecadação. Alguns exemplos de déspotas esclarecidos.
Marquês de Pombal em Portugal: Sebastião de José de
Carvalho e Melo, conhecido como Marques de Pombal, fez várias reformas em
Portugal pelo ministro criou várias companhias comerciais privadas com direito
de monopólio comercial sobre algumas regiões ou isenção fiscal. Seu objetivo
era reavivar a economia portuguesa e eliminar a dependência que tinha da
inglesa. Fundou o Banco Real e modernizou o exército e o ensino. Investiu
contra os privilégios do clero: expulsou os membros da Companhia de Jesus em
1759 e transferiu para a Coroa o controle da Inquisição. Após do grande
terremoto de Lisboa de 1755[14], ele reestruturou a
cidade com avenidas e ruas modernas.
José II imperador da Germânia: aboliu a servidão e a
tortura, secularizou seus bens, fundou escolas, hospitais e asilos, concedeu
liberdade de culto a toda crença religiosa, criou impostos para o clero e a
nobreza, limitou feriados e peregrinações, tornou a língua alemã como
obrigatória.
Catarina II na Rússia: o Estado que mais fez
propaganda e menos praticou as novas ideias foi a Rússia. Catarina II
(1762-1796) estrangeira da Prússia assumiu a Rússia. Atraiu filósofos, manteve
correspondência com eles, muito prometeu e pouco fez. A czarina criou
hospitais, racionalizou a administração pública deu liberdade religiosa ao povo
e educou as altas classes sociais, que se afrancesaram. Fortaleceu os feudos,
por isto a situação dos servos se agravou. Os proprietários chegaram a ter
direito de condená-los à morte.
Aranda na Espanha: o primeiro ministro liberou o comércio, estimulou a
indústria de luxo e de tecidos, dinamizou a administração com a criação dos intendentes, que
fortaleceram o poder do Rei Carlos III.
Frederico II na Prússia: aboliu a servidão e reformou
o sistema penal, aboliu as torturas praticadas por seu pai, fundou escolas
promovendo a educação, incentivou a produção cultural comercial e
manufatureira, decretou a tolerância religiosa.
[1]
Pela importância e a amplitude das ideias iluministas,
este século ficou conhecido como o Século
das Luzes.
[2]Nesta época ocorreram grandes avanços científicos, já que só a fé deixou
já não bastava mais em ser a única explicação para os acontecimentos ocorridos
na vida da população.
[3] A palavra Iluminismo foi escolhida porque vem do verbo iluminar. Era um
contraponto a Idade das Trevas (Idade Média).
[4] Em referência ao verbo esclarecer, tornar brilhante, polido.
[5] Sentimentos estes que achavam ser irracionais.
[6] Surgiram publicações de livros e revistas.
[7] Ele não negava a existência de Deus, mas propunha que caberia à ciência
entender a lógica racional divina.
[8] Para os pensadores do Antigo Regime a autoridade real era justificada
pela fé, pela religião, pela tradição. O monarca era considerado uma pessoa de
natureza diferente das outras pessoas, superior aos demais.
[10] Com sua utopia Emílio, ele propõe uma educação totalmente livre de
amarras sociais, junto à natureza e longe da sociedade e Contrato Social, em
que defende uma vida social apenas regulada por convenções e contratos, ele
forneceu a base ideológica para a Revolução Francesa.
[11] Um contraponto ao que se pensava que a riqueza das nações era medida
pela quantidade de ouro e prata acumulado ou ao conceito medieval francês que
era na quantidade de terras.
[12] Ainda hoje a obra de Smith é considerada um manual do capitalismo
moderno.
[13] O despotismo esclarecido deu-se basicamente em reinos do leste europeu
e nos reinos ibéricos.
[14] O terramoto de Lisboa teve um enorme impacto político e socioeconômico
na sociedade portuguesa do século XVIII, dando origem aos primeiros estudos
científicos do efeito de um sismo numa área alargada, marcando assim o
nascimento da moderna Sismologia. O acontecimento foi largamente discutido
pelos filósofos iluministas, como Voltaire, inspirando desenvolvimentos
significativos no domínio da teodiceia e da filosofia do sublime.
Nenhum comentário:
Postar um comentário