O Império Bizantino
O Império Bizantino surgiu quando o imperador romano
Constantino I decidiu construir sobre a antiga cidade grega de Bizâncio uma
nova capital[1]
para o Império Romano, mais próxima às rotas comerciais que ligavam o Mar
Mediterrâneo ao Mar Negro, e a Europa à Ásia. Para estabelecer o domínio
administrativo na porção oriental do mundo romano, Constantino decidiu
transformar bizâncio em capital do império em 330.
1. Constantinopla
A nova capital, batizada de Constantinopla em
homenagem ao Imperador, unia a organização urbana de Roma à arquitetura e arte
gregas, com claras influências orientais. É uma cidade estrategicamente muito
bem localizada, e sua resistência a dezenas de cercos prova a boa escolha de
Constantino. Em pouco tempo, a cidade renovada tornar-se-ia uma das mais
movimentadas e cosmopolitas de sua época.
Igreja de Santa Sophia |
2. Divisão do Império
Após a morte do imperador Teodósio, em 395, o Império
Romano foi dividido em uma região ocidental, com sede em Roma, e outra
oriental, sediada em Constantinopla, ficando cada uma das regiões sob o governo
de um de sus filhos: Honório, imperador do Ocidente e Arcádio, imperador do Oriente.
3. Identidade, continuidade e consciência
O Império Bizantino pode ser definido como um império
formado por várias nações da Eurásia que emergiu como império cristão e
terminou seus mais de 1000 anos de história em 1453 como um estado grego ortodoxo:
o império se tornou nação.
Nos séculos que seguiram às conquistas árabes e
lombardas do século VII, esta natureza intercultural (assinalamos: não
multinacional) permaneceu ainda nos Bálcãs e Ásia Menor, onde residia uma
poderosa e superior população grega.
Os bizantinos identificavam a si mesmos como romanos,
e continuaram usando o termo quando converteu-se em sinônimo de helênico.
Preferiram chamar a si mesmos, em grego, romioi (quer dizer povo grego cristão
com cidadania romana), ao mesmo tempo que desenvolviam uma consciência nacional
como residentes de Romania (Romania é como o estado bizantino e seu mundo foram
chamados na sua época). O nacionalismo se refletia na literatura,
particularmente nas canções e em poemas como o Akritias, em que as populações
fronteiriças (de combatentes chamados akritas) se orgulhavam de defender seu
país contra os invasores.
Ainda que os antigos gregos não fossem cristãos, os
bizantinos os reclamavam como seus ancestrais. De fato, os bizantinos se
referiam a eles mesmos como romioi por ser uma forma de reter tanto sua
cidadania romana quanto sua herança ancestral grega. Um substituto comum do
termo "heleno" (que tinha conotações pagãs) tanto como o de romioi,
foi o termo graekos (grego). Este termo foi usado frequentemente pelos
bizantinos (tanto como romioi) para sua auto-identificação étnica.
A dissolução do estado bizantino no século XV não
desfez imediatamente a sociedade bizantina. Durante a ocupação otomana, os
gregos continuaram identificando-se como romanos e helenos, identificação que
sobreviveu até princípios do século XX e que ainda persiste na moderna Grécia.
4. Dinastias latinas
Nesse período, os imperadores buscaram combater o
helenismo, predominando as instituições latinas. O latim também foi mantido
como língua oficial.
De 395 a 457, estendeu-se a dinastia Teodosiana, cujo
primeiro imperador foi Arcádio, responsável pela expulsão dos visigodos no
final do século IV. Destacou-se também o cerco de Átila, o Huno, afastado, em
443, por meio do pagamento de um resgate de seis mil libras de ouro.
Imperador Justiniano |
A mais importante dinastia latina foi a Justiniana
(518-610). Nela, o imperador Justiniano I (527-565) buscou restaurar e dispor
sob sua inteira autoridade a vastidão típica do Império dos Antoninos (96-192).
Em 534, sob o comando do general Belisário, o exército de Justiniano conquistou
o Reino dos Vândalos. Em 554, com a conclusão das Guerras Góticas, na Península
Itálica, o Império abraçava também o Reino dos Ostrogodos.
Para a posteridade, porém, o maior legado desse
período foi o Corpus Juris Civili, base, ainda hoje, da maioria dos códigos
legislativos do mundo. O Corpus Juris Civili era dividido em quatro partes: o
Código Justiniano - compilação de todas as leis romanas desde Adriano (117-138)
-, o Digesto ou Pandectas - reunião de trabalhos de jurisprudência de grandes
juristas -, as Institutas - espécie de manual que facilitava o uso do Código ou
do Digesto -, e as Novelas ou Autênticas - novas leis decretadas por Justiniano
e seus sucessores.
Justiniano ordenou também a construção da Basílica de
Santa Sofia, com estilo arquitetônico próprio, o qual convencionou-se chamar de
estilo bizantino.
Justiniano ainda se viu às voltas com terremotos, fome
e a grande peste de 544. Após sua morte, os lombardos, até então estabelecidos
na Panônia como aliados, invadiram, em 568, a Itália setentrional. Os
bizantinos mantiveram ainda o Exarcado de Ravenna, os ducados de Roma e
Nápoles, a Ístria, a Itália Meridional e a Sicília.
Os Justinianos ainda enfrentaram as investidas do
Império Persa Sassânida, no Oriente, e dos ávaros, no norte. Para tanto,
deixaram para segundo plano a proteção dos territórios conquistados na Espanha,
no norte da África e na Itália, o que facilitou a posterior fixação, nestas
regiões, dos maometanos e dos Estados da Igreja.
5. A religião em bizâncio, o Cisma da Igreja
Os rituais das missas na Igreja do oriente seguia os
costumes gregos e também sofria influência dos povos árabes. Enquanto que na
porção ocidental da Igreja, seguia ao rito latino, com seus costumes. Contudo,
surgiu também, divergências doutrinárias opostas.
O Patriarca de Alexandria, Dióscoro, desenvolveu o
monofisismo, formulação teológica condenada pela Igreja sediada em Roma. Os
monofistas defendiam a unidade divina, se opondo a Santíssima Trindade,
defendida pela Igreja de Roma. Desencadearam-se então movimentos de perseguição
aos monofisistas, protegidos, no entanto, pela esposa de Justiniano, a
Imperatriz Teodora.
Surgiu também o movimento dos iconoclastas, apoiados
no antigo testamento e com crenças orientais, não admitiam a adoração de
imagens nas igrejas, chegando a organizar manifestações populares cujo objetivo
era a destruição dessas representações existentes nos templos bizantinos.
A Igreja Oriental não permitia a confecção de estátuas, mas permitia pinturas e mosaicos |
As divergências entre o cristianismo ocidental e
oriental continuaram a se acentuar. Como consequência disto, os cristão
orientais deixaram de reconhecer o poder papal em 1054, e fundaram a Igreja
católica Ortodoxa.
6. O apogeu
Contudo, o Império sobreviveu, graças aos
disciplinados exércitos, ao emprego do fogo grego nas batalhas marítimas e a
bons imperadores e generais. Entre os séculos VII e IX, desenvolveu-se o
movimento iconoclasta, que condenava o culto das imagens. Vários imperadores
iconoclastas enfrentaram problemas internos, resultantes de uma população que
não aderia ao movimento religioso. Já contra os turcos, os imperadores deste
tempo conseguiram manter seus territórios e se defender relativamente bem
contra os inimigos.
Em 867, subiu ao trono Basílio I, dando início à
Dinastia Macedônica, que levou o Império ao auge. Muitas vitórias foram obtidas
frente aos turcos, eslavos e búlgaros. Basílio II, que governou de 976 a 1025,
completou a expansão do Império. Ele prejudicou os grandes proprietários rurais
em favor dos camponeses e venceu de uma vez por todas a Bulgária,
incorporando-a ao Império e recebendo a fama de Bulbassaurus (Mata-Búlgaros).
Venceu os normandos em Canas e restabeleceu a autoridade imperial na Apúlia
(Itália).
7. O declínio
A maré de sorte do Império, entretanto, parecia ter
acabado. Em 1071, o imperador bizantino Diógenes IV foi vencido e capturado
pelos turcos seljúcidas na Batalha de Manzikert. Essa batalha marcou a
desintegração do sistema defensivo que durante séculos protegeu a Ásia Menor e
a entrada dos turcos na península anatólica. Com isso o Império perdeu até um
terço de sua população e recursos.
Por mais que a dinastia subseqüente, aquela dos
Comneni, tentasse recuperar o Império, ataques do ocidente e do norte e a
própria sorte dos imperadores impediram isso. A Península Itálica estava
definitivamente perdida. O declínio do Império veio acompanhado de uma
subserviência comercial aos interesses ora da República de Veneza (com a qual o
próprio Basílio II assinou um tratado), ora da República de Gênova, até que
finalmente Veneza desviou a Quarta Cruzada para Constantinopla, que caiu frente
aos cruzados em 1204.
Três Estados com governantes bizantinos surgiram
depois da primeira "queda" de Constantinopla:
a)
O Império de Nicéia
b)
O Despotado do Épiro
c)
O Império de Trebizonda
Destes, é o Império de Nicéia que é considerado o
verdadeiro sucessor. Governado por imperadores fortes e bons, se tornou a
primeira potência territorial na Ásia Menor. A agricultura se desenvolveu,
assim como o comércio, e várias cidades na Europa foram recuperadas. Os
Paleólogos, faltando com o seu juramento de lealdade, assassinaram o legítimo
imperador e depuseram a dinastia dos Vatatzes-Laskaris. Miguel VIII Paleólogo
fez uma aliança com Gênova e conseguiu reconquistar a antiga capital do Império
Bizantino no dia 25 de julho de 1261.
Contudo a dinastia dos Paleólogos não conseguiu
recuperar a antiga glória imperial. A retirada de tropas da Ásia para a defesa
e reconquista da Europa abriu caminho para os vários emirados turcos, inclusive
aquele dos Otomanos, se instalarem em antigos territórios do Império de Nicéia.
Sem os territórios asiáticos e com a colonização
comercial de Veneza e Gênova, o destino do Império estava selado. Especialmente
prejudicial era colônia genovesa de Pera, que, instalada de frente a
Constantinopla, dominava o comércio local, importante para os bizantinos.
Apesar de várias tentativas de obter apoio ocidental, culminando com a promessa
de união entre a Igreja Católica Romana, com sede em Roma, e a Igreja Católica
Ortodoxa, com sede em Constantinopla, no Concílio de Ferrara/Florença, poucos
foram os resultados. A cruzada pregada pelo papado para o resgate da Nova Roma
foi vencida pelos otomanos. A viagem do imperador João VIII ao Ocidente não rendeu
frutos, apesar dele ter sido muito bem tratado nos reinos ocidentais.
A queda de Constantinopla
A queda de Constantinopla significou a perda de um
posto estratégico do cristianismo, que assegurava o acesso de comerciantes
europeus em direção às rotas comerciais para a Índia e a China, sobretudo para
os comerciantes venezianos e genoveses. Com a dominação turca, a rota entre o
Mediterrâneo e o Mar Negro ficou, senão bloqueada aos navios cristãos, ao menos
dificultada. Isto impulsionou uma corrida naval em busca de outra rota em
direção à Índia através do Oceano Atlântico, contornando a África,.Espanha e
Portugal rapidamente tiraram vantagem da posição geográfica para dominar as
novas rotas, causando o declínio das repúblicas marítimas de Veneza e Gênova.
Tomada de Constantinopla pelos Turcos Otomanos em 1453, marca o fim da Idade Média |
No final do século XV, financiado pelos reis de
Espanha, Cristóvão Colombo partiu para uma ousada tentativa de alcançar a Ásia
em uma nova rota através do oceano, para oeste, descobrindo um novo continente,
a América, descortinando um novo mundo para os europeus. Este mesmo processo de
fechamento do comércio no mar mediterrâneo, no qual os turcos otomanos
impediram o avanço europeu, fez com que toda a região balcânica se tornasse
mais dependente da produção própria, juntamente com a península itálica. As
diversas transformações econômicas e políticas que se seguiram à queda do
Império Romano do Oriente levaram os historiadores a convencionarem o ano de
1453 como o marco do fim da Idade Média e do fim do feudalismo na Europa,
fazendo do Império Bizantino um grande marco para as descobertas de novas
terras, e para o desenvolvimento do capitalismo no mundo.
Na arquitetura destacaram-se na construção de grandes
palácios e mesquitas de cúpulas singulares, minaretes, arcos em ferraduras e
colunas torcidas, os arabescos
para ilustração e decoração e o uso de reboco como revestimento interno.
Cisma do Oriente
-As Cruzadas
[1] Além disso, já
havia algum tempo que Roma era preterida por seus imperadores que optavam por
outras sedes de governo, em especial cidades mais próximas das fronteiras ou
onde a pressão política fosse menor. Em geral, eles tendiam a escolher Milão,
mas as fronteiras que estavam em perigo na época de Constantino eram as da
Pérsia ao Leste e as do Danúbio ao norte, muito mais próximas da região dos
estreitos.
[2] Cesaropapismo era alusão a césar, imperador de Roma e ao papa, era o
chefe supremo da Igreja.
[3] Nika era a palavra gritada pelos revoltosos que significava vitória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário