sábado, 25 de julho de 2015

Reforma Religiosa

A Igreja Católica Apostólica Romana, era proprietária de terras, cobrava dízimos, fazia alianças com governos poderosos e controlava o ensino, com isto a reforma não foi apenas religiosa e sim econômica, social e política também.
1. Crise religiosa
O desregramento moral predominava na hierarquia eclesiástica, aumentou a descrença da população com relação à Igreja e seus representantes. Cargos eclesiásticos eram vendidos para pessoas sem menor preparo. Bispos, arcebispos e até papas exerciam seus cargos pela mera ambição do título ou pelas vantagens políticas decorrentes da posição, estimulando o mau comportamento dos clérigos e o descrédito dos fiéis.
João Tetzel, vendedor de Indulgências
Uma das práticas católicas mais criticadas pelos reformistas era a venda de indulgências, considerada imoral, um desvirtuamento da doutrina bíblica. A fim de manter seu luxo e suas riquezas, muitos membros da Igreja negociavam o perdão para pecados cometidos, com promessas de redução de penas no purgatório: quanto maior o pecado, maior a soma a ser paga. Outra forma de arrecadação era a cobrança de altos dízimos, em que a Igreja pregava o desapego dos bens materiais.
Além disso, estabeleceu-se entre várias paróquias da Europa o comércio de supostas relíquias relacionadas com a vida dos santos ou a passagem de Jesus pela Terra. Milhares de objetos falsamente sagrados foram vendidos. Havia, por exemplo, lascas da cruz de Cristo, espinho da coroa de Jesus e ossos do burrinho de São José.
A venda de indulgências, venda de relíquias, cobrança para ver relíquias, cobranças de altos dízimos, comportamento imoral de parte do clero, contribuíram para que católicos abnegados sentiam-se inconformados com a situação.
Martinho Lutero, iniciou a
Reforma Protestante
2. Reforma Luterana
Em 1517, na Alemanha, região do Sacro Império Romano Germânico, Martinho Lutero um Frade agostiniano (1483- 1546) e professor da Universidade de Wittenberg, Saxônia, rebelou-se contra o vendedor de indulgências João Tetzel. Ele dizia que, se alguém comprasse uma indulgência para um parente falecido, "no momento em que a moeda tocasse no fundo do cofre a alma saltava do inferno e ia direto para o céu". Este era dominicano a serviço do papa leão X que recolhia recursos para a construção da Basílica de São Pedro, em Roma.
Boa parte da população entregou eu dinheiro em busca da salvação na esperada vida eterna. Revoltado com essa exploração do povo, Lutero fixou na porta da frente da capela de Wittenberg um texto com suas 95 Teses, em que criticava ferozmente a troca das penitências por dinheiro. Lutero não desejava criar uma nova Igreja e sim reformar internamente a que pertencia.
Em 1520, o papa Leão X exigiu a sua retratação sob pena de ser considerado herege. Lutero queimou em praça pública a ordem papal e em 1521, foi excomungado. Mas suas ideias se espalharam rapidamente por toda a Alemanha, pois já havia um clima de descontentamento com as atitudes da Igreja. Sua doutrina baseava-se em:
a) Justificação pela fé: a pessoas é salva por meio da fé, e não pelas obras que pratica;
b) Sacerdócio Universal: todos os crentes podem interpretar livremente a Bíblia;
c) Negação da inabilidade da Igreja: a única fonte de verdade é a Bíblia, e não a tradição ensinada pela Igreja.


Lutero e os anabatistas
O estabelecimento do movimento reformista na região do Sacro Império Romano Germânico não ocorreu sem conflito. Um discípulo de Lutero, chamado Thomas Müntzer (1490-1525), passou a liderar um grupo religiosos formado por camponeses, conhecidos como anabatistas. Eles pregavam que os fiéis deveriam ser batizados outra vez, na idade adulta. Também reivindicavam algo que não agrava aos nobres: a divisão das terras da Igreja entre os mais pobres. Lutero, que contava com o apoio dos nobres, acusou-os de radicais e incentivou a violenta repressão da nobreza, o que resultou na morte de mais de 100 000 camponeses.
Liberdade religiosa no Sacro Império Romano Germânico
Depois de muitos confrontos foi assinada em 1555 a Paz de Augsburgo. A partir de então, os príncipes alemães puderam escolher a religião em que desejavam suas terras. A doutrina luterana, a partir de então, assumiu alguns princípios, como a predestinação e a justificação pela fé. Para os luteranos, a Bíblia era a autêntica base da religião e, portanto, o culto devia reduzir-se à leitura e ao comentário das sagradas Escrituras. Além disso, apenas as práticas instituídas no Novo testamento é que deveriam ser conservadas.
Dessa maneira, dos 7 sacramentos defendidos pela Igreja Católica, apenas dois tiveram sua existência reconhecida pelos luteranos: o batismo e a eucaristia. Repudiou-se o culto à Virgem Maria, aos Santos e foi negado a existência do purgatório.
Nos cultos religiosos, adotou-se a língua nacional, em vez do latim e os pastores protestantes deveriam participar ativamente na comunidade, poderiam casar e ter filhos. Além disso, o luteranismo assumiu uma postura de não intervenção direta da política do Estado, separando o poder temporal do espiritual.
3. Reforma Calvinista
João Calvino
Inspirado no luteranismo alemão, o francês João Calvino publicou em 1536, uma obra chamada Instituição Cristã. Nela, apresentou os pontos centrais do que, mais tarde, viria a ser a doutrina calvinista. Esse livro foi uma resposta de Calvino a Francisco I, rei da França, que perseguia os luteranos. Passado algum tempo, Calvino foi expulso da França.
Suas pregações obtiveram rápido sucesso principalmente na Suíça, era uma região de próspero comércio e livre do Sacro Império desde 1499 e estava imersa nos conflitos entre partidários dos protestantes e seus oposicionistas.  Em 1541, Calvino foi convidado a assumir a posição de chefe político e religioso da cidade de Genebra: aceitou e governou de forma absoluta e intransigente. Para isso criou o Consistório, órgão que controlava a política, economia e os costumes religiosos dos seus cidadãos, além de punir as transgressões.
O culto e as práticas religiosas estabelecidas pelos calvinistas eram simples e rigorosos, resumindo-se apenas ao comentário da Bíblia, às preces e aos cantos. Exigia-se que os fiéis se apresentassem de maneira discreta e sóbria. Como no luteranismo os sacramentos ficaram só o batismo e a eucaristia e a condenação ao uso de imagens. Os pastores não eram tidos como intermediários entre Deus e os homens, resumindo-se apenas fiéis, encarregados da pregação e das preces. Na vida em sociedade, os fiéis estavam proibidos de dançar, jogar cartas, ostentar sua riqueza ou ficar fora de casa depois das 21 horas.
Aceitação junto aos burgueses
Calvino julgava o sucesso econômico um reflexo da predestinação do indivíduo: mercadores, banqueiros e artesãos eram vistos como escolhidos para a salvação eterna. A miséria era uma demonstração dos males e dos pecados humanos e devia ser combatida: os indivíduos que não alcançavam sucesso econômico eram marginalizados. Por reconhecer e exaltar o lucro e o trabalho, Calvino passou a ser considerado o pregador espiritual do ideal burguês, conseguindo rápida aceitação no meio.
Expansão das ideias de Calvino
Além de Genebra, outras cidades não só suíças e várias outras europeias como Berna e Estrasburgo converteram-se ao calvinismo. Na Escócia a ação do pregador John Knox, amigo e discípulo de Calvino, com quem conviveu em Genebra, foi decisiva para a adoção daqueles ensinamentos e deus origem à Igreja Presbiteriana. Esta se organizou com base nos conselhos de membros da sociedade, os presbíteros, conforme os moldes genebrinos, e não em pessoas voltadas exclusivamente à religião, como no catolicismo.
Na Inglaterra, os calvinistas foram chamados de puritanos, os predestinados, e na França de huguenotes. Em outros países, como a Holanda e a Dinamarca, o calvinismo ganhou inúmeros adeptos, confirmando o sucesso da doutrina diante do interesse no progresso econômico capitalista.
3. Reforma Anglicana
Enquanto nas outras regiões da Europa a Reforma religiosa foi comandada por indivíduos extremamente religiosos na Inglaterra foi iniciada pelo próprio rei, Henrique VIII. O conflito entre a Igreja e o poder real inglês começou quando o monarca quis casar-se novamente. O rei estava bastante descontente com seu casamento. Primeiro, devido à origem espanhola de sua esposa, já que a Espanha era inimiga da Inglaterra. Segundo sua esposa, Catarina de Aragão, não tivera nenhum filho homem para sucedê-lo no trono e Henrique decidiu desposar Ana Bolena, uma dama da corte.
Rei Henrique VII, reformador inglês
Para isso, o rei pediu ao papa a anulação de seu casamento, em 1529. Isso não podia ser autorizado pela Igreja, defensora da indissolubilidade do matrimônio e unida por fortes laços políticos ao sobrinho de Catarina, Carlos V, monarca católico do Sacro Império Romano Germânico, além de era ser filha dos reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela.
Além disso, há muito tempo os soberanos ingleses desejavam apoderar-se das terras da Igreja católica em seu território. Assim, diante do impasse, em 1533 foi anunciada a submissão do clero católico inglês ao poder do monarca e foram abolidos todos os pagamentos de rendas e taxas ao papa. Henrique VIII conseguiu que o alto clero inglês e o parlamento reconhecessem a validade de suas intenções. Em 1534, o parlamento inglês votou o Ato de Supremacia, pelo qual considerava Henrique VIII o chefe supremo da Igreja da Inglaterra. Supriu os mosteiros católicos, confiscou os bens eclesiásticos para o Estado.
Criava-se a nova Igreja Anglicana, mas nada foi modificado em termos de doutrina e culto em relação a católica. Os ingleses, por juramento, deviam submeter-se ao rei da Inglaterra e não ao papa, caso contrário seriam excomungados e perseguidos pela justiça real. Houve pouca resistência, nela incluída a de Tomás Morus, (primeiro ministro de Henrique VIII e autor do livro Utopia), que se negava a reconhecer a autoridade religiosa de Henrique VII e foi decapitado.
4. A Contrarreforma Católica
A expansão do protestantismo na Europa, abalou seriamente a tradicional hegemonia que a Igreja Cristã, sediada em Roma, conquistara sobre o continente durante a Idade Média, fazendo com que a Igreja se mobilizasse para reconquistar seus fiéis e conseguir novos adeptos, surgiu assim, no interior da Igreja um movimento, que buscava ao mesmo tempo fortalecer a Igreja papal e moralizar todo o clero adotando medidas que compuseram a Reforma Católica.
Mesmo antes da reforma Protestante, havia no interior da Igreja Católica movimentos para renová-la. As críticas à instituição se aprofundaram graças ao humanismo e ao protestantismo entre a população de várias partes da Europa.
Nesse contexto, a Igreja Católica tomou medidas para melhorar sua estrutura interna. Entre 1534 e 1590, as finanças da Igreja foram reorganizadas, exigiu-se o preenchimento dos cargos da Igreja por padres destacados e pela integridade moral e adotou-se a política de intolerância com padres de conduta moral duvidosa.
Criação da Companhia de Jesus
Uma eficaz reação foi em 1534, com a criação da Companhia de Jesus, por Ignácio de Loyola. Esta ordem religiosa tinha a semelhança de um exército. Por terem uma obediência sem igual aos seus superiores e uma rígida conduta moral, os “soldados de Cristo”, como eram chamados os jesuítas possibilitaram uma reorganização no comportamento clerical.
Companhia de Jesus
Em 1540 foi reconhecida pelo papa Paulo III. Os jesuítas tinham como missão principal combater os infiéis e protestantes. Suas armas eram, principalmente, as palavras expressivas e convincentes, assim como o conhecimento profundo das Escrituras.
A importância que esses grupos religiosos atribuíram à educação levou-os a monopolizar as instituições de ensino de diversas regiões, com o objetivo principal de difundir a ideologia católica romana. Os jesuítas foram o braço mais forte da Igreja Católica na expansão das nações modernas pelos novos territórios durante o período das Grandes navegações (América, África e Ásia).
Concílio de Trento (1545-1563)
Convocado pelo Papa Paulo III, querendo modificar a igreja, convocou os membros do alto clero para uma assembleia em 1536 e iniciado só no final de 1545, chegou tarde demais para restabelecer a unidade da Igreja. Onde o objetivo desse concílio era resolver os problemas da fé e eliminar vários atritos que levaram muitos a entrarem nas religiões protestantes.
Basicamente, o Concílio de Trento reafirmou a doutrina católica e a organização da Igreja. Negou as mudanças doutrinárias realizadas pelos reformistas, confirmando os sete sacramentos e o cultos da Virgem Maria e dos Santos. Reafirmou que um bom católico é salvo e pela sua fé e pelas boas obras praticadas em vida e, por fim, reafirmou que a doutrina católica são as tradições da Igreja e a Bíblia.
Índice dos Livros Proibidos
O Concílio de Trento também condenou a corrupção interna proveniente da venda de cargos eclesiásticos, relíquias e indulgencias. Essas práticas não foram proibidas, mas deveriam ser rigidamente controladas pelas autoridades da instituição. Exigiu-se que o clero vivesse conduta exemplar e boa formação intelectual. Para isso, determinou-se a criação de seminários para formar os sacerdotes.
Em Trento, também foi criado o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, reorganizou a Inquisição medieval. Agia como guardiã da fé católica, investigando e punindo os suspeitos de defender ou se comportar de acordo com os ideais condenados pela Igreja.
Muitos judeus e cristãos-novos fugiram de Portugal, espalhando-se pela Europa, principalmente nos Países Baixos, ou se instalando em terras americanas, inclusive o Brasil. O primeiro inquisidor chegou ao Brasil em 1591, ficando até 1595.
O Concílio de Trento acabou, assim, reafirmando a divisão da comunidade cristã, abrindo uma acirrada disputa entre católicos e protestantes em busca de adeptos na Europa e em outros continentes.
Index Librorum Prohibitorum
O Índice dos Livros Proibidos foi criado em 1564. Era uma relação de obras literárias consideradas heréticas, e que não deveriam ser lidos pelos fiéis. Dela constavam as Bíblias luterana, calvinista e anglicana e diversas obras de intelectuais como: Galileu Galilei, Giordano Bruno, Isaac Newton.

-Europa Dividida Religiosamente
-Cisma do Ocidente

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