segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O Poder da Igreja na Idade Média

A religião cristã nasceu durante o Império Romano. Por séculos se expandiu, conquistando poder e grande número de adeptos. Em 313 obteve do governo romano o direito à liberdade de culto; em 391 foi transformada em religião oficial do império.

1. União política em torno da Igreja
Entretanto, o poder da igreja só se consolidaria com a conversão dos povos germânicos ao catolicismo. Com isso, a Igreja sobreviveria à desagregação do Império Romano do Ocidente, ao mesmo tempo que se transformava na mais poderosa instituição de seu tempo.
Em uma sociedade fragmentada, a Igreja católica garantia não só a unidade religiosa, mas também a política e a cultural. Com o controle da fé, ela ditava a forma de nascer, morrer, festejar, pensar, enfim, de todos os aspectos da vida dos seres humanos no mundo medieval. Os homens não deveriam questionar ou procurar entender. Deveriam apenas acreditar.
A Igreja Católica teve papel preponderante na formação do feudalismo, sendo a instituição mais poderosa da idade Média. Numa época em que a riqueza era medida pela quantidade de terras, a Igreja chegou a ser proprietária de quase dois terços das terras da Europa ocidental. Era a grande senhora feudal, participando das relações de suserania e vassalagem e controlando a servidão dos camponeses. Além de grande proprietária de terras, estruturou a visão de mundo do homem medieval. Na realidade, foi a instituição que sobreviveu às inúmeras mudanças ocorridas na Europa no século V e, ao promover a evangelização dos bárbaros, concretizou a simbiose entre o mundo romano e o bárbaro.

No tempo das catedrais
Até hoje, em diversas regiões da Europa, podemos testemunhar o poder da Igreja católica no mundo medieval. As grandes catedrais construídas nos séculos XII e XIII são um dos exemplos desse poder. A catedral de Coutances, na França. Construída em estilo gótico, demorou trinta anos (1220-1250) para ficar pronta. Outro exemplo é a Catedral de Colônia, localizada na cidade alemã de Colônia, igreja de estilo gótico, é o marco principal da cidade. A construção da igreja gótica começou no século XIII e levou, com as interrupções, mais de 600 anos para ser completada. As duas torres possuem 157 metros de altura, com a catedral possuindo o comprimento de 144 metros e largura de 86 metros. Quando foi concluída em 1880, era o prédio mais alto do mundo. A catedral é dedicada a São Pedro e a Maria.

A Igreja como grande guardiã da herança de Roma
A Igreja tornou-se herdeira da cultura clássica, pois no universo medieval a Igreja Católica monopolizava o conhecimento.  Os monges copistas, dedicados à transcrição de manuscritos da Antiguidade Clássica, foram os principais responsáveis pela manutenção da cultura erudita, que era representada, pelos textos gregos e romanos. O próprio regime político da Igreja é herança de Roma. De seu nome, Igreja Católica Apostólica Romana, ela é mais Romana que qualquer outra coisa. 
Sem dúvida alguma sua estrutura fortemente hierarquizada colaborou para que ultrapassasse todas as crises, concentrando o saber e o poder. Internamente havia uma divisão entre o alto clero, membros da nobreza que exerciam cargos de direção, e o baixo clero, composto por pessoas originárias dos seguimentos mais pobres da população. O comando de toda essa estrutura lentamente concentrou-se nas mãos do bispo de Roma, que se tornou papa no século V.
Para cumprir a missão de evangelização dos reinos bárbaros entre os séculos V e VII, parte do clero passou a conviver com os fiéis, constituindo o clero secular, isto é, aquele que vive no mundo. Entretanto, com o tempo, parte dos religiosos se vinculou aos aspectos temporais e materiais do mundo medieval, ou seja, aos hábitos, interesses, relações, valores e costumes dos homens comuns, afastando-se das origens doutrinárias e religiosas. Paralelamente ao clero secular surgiu o clero regular, formado por monges que serviam a Deus vivendo afastados do mundo material, recolhidos em mosteiros.

A vida nos mosteiros
Nem todos os cristãos eram a favor de a Igreja acumular riquezas e criticavam a vida luxuosa que muitos bispos e padres levavam. Procurando retomar os ensinamentos e a vida pobre de Cristo, muitos religiosos optaram por uma vida mais simples, recusando os bens materiais. Surgiram assim as ordens monásticas.
São Bento organizou a primeira ordem monástica no ocidente, a ordem dos beneditinos, baseado na regra orar e trabalhar, que significa viver, na prática, em estado de obediência, pobreza e castidade. Na verdade, os mosteiros acabaram se tornando o centro da vida cultural e intelectual da Idade Média e também cumpriram funções econômicas e políticas importantes.
Abadias: centros de oração, trabalho e produção intelectual
Na Idade Média foram fundadas inúmeras abadias. Algumas tornaram-se muito famosas e existem até hoje, como a de Melk, na Áustria. Recebe o nome de abadia a residência de monges ou de monjas governadas por um abade ou por uma abadessa.
As abadias medievais eram praticamente auto-suficientes. Tinham geralmente igrejas, bibliotecas, muitos quartos (celas), oficinas para a produção e conserto de ferramentas e carroças, estrebarias e cocheiras, cozinhas, etc.
Localizavam-se sempre no centro de uma grande propriedade, onde eram cultivados trigo, cevada, centeio, videiras, frutas, etc. Eram também criados porcos, galinhas, perus, patos, bois, vacas, cavalos, etc.
Os próprios monges trabalhavam no cultivo e na criação. Alguns, porém, passavam todos o tempo na biblioteca, copiando e estudando as obras dos grandes escritores da Antiguidade, sobretudo gregos e romanos. Eram os monges copistas. Eles produziram verdadeiras obras de arte. Nas margens das páginas, desenhavam ilustrações (iluminuras), utilizando um tipo de letra que hoje conhecemos como gótica. Nas abadias, além do trabalho, grade parte do tempo era dedicada à oração e ao canto sacro. As abadias contavam também com numerosos servos, que executavam os trabalhos mais pesados.

As heresias
Apesar de todo o seu poder, a Igreja católica encontrava resistência por parte de grupos ou pessoas que se opunham a alguns de seus dogmas. O ato de se opor à Igreja era chamado heresia; quem a praticava era considerado herege e condenado pela Igreja. É importante destacar que na Europa medieval não se questionava a existência de Deus, mas apenas a forma como essa fé deveria ser manifestada.
Um exemplo de heresia era a seita dos cátaros, valdenses, patarinos, entre outros,surgida no século XII. Eles adotavam a pobreza absoluta, condenavam a riqueza da Igreja e não se submetiam à autoridade do papa, não aceitavam os juramentos e a pena de morte. Defendiam ainda que qualquer pessoa podia rezar a missa.
Para combater seitas e pessoas hereges, a Igreja católica adotou uma série de medidas que culminou com a criação do Tribunal de Santo Ofício, no século XII. Esses tribunais mandavam investigar os casos suspeitos, havia julgamento e castigos, muitas vezes a condenação à morte. Para obter a confissão, os inquisidores faziam uso da tortura física. 
Dessa crise surgiu uma reforma na Igreja Católica, promovida pelo papa Gregório IX, no século XI. Entre os pontos fundamentais estava a questão de que os senhores feudais não poderiam mais nomear os bispos de sua região, o fim do comércio de bens religiosos, a imposição do celibato clerical e os movimentos das cruzadas.
Na própria Igreja também existiam movimentos contrários ao seu envolvimento nas questões materiais e ao uso da violência contra os hereges. Eram os franciscanos e dominicanos, que pregavam voto de pobreza e por isso eram conhecidos como ordens mendicantes, que se misturavam ao povo, procurando demonstrar a vida pobre e sacrificada do cristão. No entanto, eles foram incapazes de realizar a moralização definitiva da Igreja. Pode-se considerar que toda movimentação contra as interferências da Igreja Católica no mundo material, iniciada na Idade Média, acabaram originando a grande divisão dos católicos no século XVI, com a Reforma Protestante. 

O Canto Gregoriano 
O canto gregoriano ou canto sacro surgiu na época medieval. Nele, a música é apenas cantada, sem acompanhamento instrumental. Esse tipo de música recebeu o nome de São Gregório, papa que comandou a Igreja entre 590 e 604. O papa Gregório Magano ordenou aos diáconos que cantassem unicamente o Evangelho. As outras passagens musicais que faziam parte da missa estavam a cargo de padres menos graduados.
Dando continuidade a sua admiração pela música, papa Gregório, apoiou a Escola de Cânticos romana, com o intuito de formar cantores profissionais, nesta época que se desenvolveu a notação musical. No século IX, por exemplo, já havia vários vocais de cantos gregorianos.

Santo Agostinho
Viveu entre os anos de 354 à 430, ele fundiu a cultura greco-romana na doutrina cristã. A corrente filosófica que mais influenciou Agostinho foi o neoplatonismo. Segundo essa corrente, o “mundo das coisas”, ou real, seria apenas a manifestação física do “mundo das ideias”. Se quiséssemos encontrar a VERDADE, deveríamos, conforme Agostinho, procurá-la não entre as coisas reais, do mundo material, mas entre as ideias do mundo espiritual. Assim ele criou uma teoria contemplativa, que dava pouco valor às coisas mundanas ou terrenas, e supervalorizava o mundo espiritual.
Para Agostinho, a vida humana era uma realização da vontade de deus, e os homens, ao nascerem, já estavam predestinados á salvação ou a perdição eterna. Aqueles que recebiam os sacramentos e se submetiam à vontade da Igreja davam provas de sua fé, de sua predestinação á salvação eterna.

2. O Grande Cisma do Oriente
No século XI um conflito de interesses entre a Igreja Católica do Ocidente e a do Oriente determinou a divisão do catolicismo, evento este conhecido historicamente como o “Cisma do Oriente”. O evento estabeleceu o rompimento das duas vertentes de católicos, ambos os lados passaram a defender suas próprias doutrinas, o que persiste até hoje.
Desde o Império Romano e durante a Idade Média a Igreja Católica possuía duas sedes principais, uma localizada em Roma, no Ocidente, e outra na cidade de Constantinopla, no Oriente. Ainda durante o poderio do Império Romano ficou estabelecido e acordado entre as duas partes da Igreja que a capital do Império seria Roma. 
Mesmo a Igreja do Oriente concordando com a decisão, havia certo ressentimento por conta de algumas exigências jurídicas que os papas insistiam em fazer. Tais exigências foram mais marcantes durante o papado de Leão IX que durou de 1048 até 1054, sendo que seus seguidores preferiram por continuar com suas determinações. A Igreja do Ocidente se opunha também ao sistema adotado no Oriente de cesaropapismo bizantino, que consistia na subordinação da Igreja Oriental a um chefe secular.
As desavenças existentes entre as Igrejas de Roma e de Constantinopla geraram vários conflitos ideológicos. Ainda durante o Império Romano, o patriarca Fócio condenou a inclusão do filho que no Credo da Cristandade Ocidental sob a acusação de heresia. A atitude que envolvia as questões disciplinares e litúrgicas da Igreja foi responsável por uma grave e primeira ruptura que ocorreu entre Ocidente e Oriente Católicos entre os anos de 456 e 867.
Ao longo dos séculos as duas Igrejas cultivaram desigualdades culturais e políticas que através de vários enfrentamentos chegaram a causar a divisão do próprio Império Romano entre Ocidental e Oriental, como aconteceu no século IV.
Situações culturais, políticas e sociais fizeram com que as duas Igrejas desenvolvessem suas características próprias, no Ocidente as invasões bárbaras marcaram uma nova fase, gerando uma nova estruturação a partir do fim do Império Romano. Enquanto isso, no Oriente as tradições do mundo clássico permaneceram presentes na sociedade e na Igreja cultivando a cristandade helenística. A Igreja do Ocidente teve muito contato com a influência e presença dos povos germanos, já a Igreja do Oriente carregou a tradição e o rito grego e integrou especialmente o Império Bizantino.
Foi no segundo milênio que as diferenças e enfrentamentos se acentuaram. No ano de 1043 assumiu a Igreja Bizantina o patriarca Miguel Cerulário, sob sua liderança foi desenvolvida uma campanha que pregava contra as Igrejas Latinas na cidade de Constantinopla. O combate proposto pelo novo patriarca envolvia questões teológicas que versavam sobre o Espírito Santo. Anos mais tarde, em 1054, Roma providenciou o envio do Cardeal Humberto à Constantinopla para tentar entender a crise e solucionar o problema. Entretanto a crise entre os cristãos já havia tomado lugar, como resultado da discussão o Cardeal Humberto decidiu por excomungar o patriarca Miguel Cerulário. O ato do Cardeal foi entendido como extensivo a toda a Igreja Bizantina, que por sua vez reagiu excomungando o papa Leão IX. Configurava-se o Cisma do Oriente, também chamado de O Grande Cisma do Oriente, que daria origem à Igreja Ortodoxa, no Oriente, e a Igreja Católica Apostólica Romana, no Ocidente.
Várias foram as tentativas de reunificar a Igreja, dentre as quais cabe destacar os Concílios Ecumênicos de Lyon em 1274 e de Florença em 1439. Por alguns momentos as duas Igrejas estiveram reunidas novamente, mas sempre por muito pouco tempo. A separação fez com que a cidade de Constantinopla fosse tomada pelos otomanos em 1453 resultando na dominação do Império Bizantino por muito tempo. Somente no dia 7 de dezembro de 1965 que o papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras I tentaram aproximar as duas Igrejas novamente levantando a questão das excomunhões, que por sua vez foram retiradas no ano seguinte por ambas as Igrejas.
Na prática os ortodoxos seguem sacramentos típicos da Igreja Ocidental, mas não acreditam na existência do purgatório ou na infalibilidade do papa. Trata-se de uma outra corrente religiosa dentro do cristianismo e dentro do próprio catolicismo, só recentemente as duas partes retomaram os diálogos tentando de alguma forma sanar o Cisma.

3. O Cisma do Ocidente
Filipe IV, o Belo, soberano francês, estabeleceu tributos sobre os bens da Igreja. O papa Bonifácio VIII, por sua vez proibiu os bispos franceses de pagar esses impostos. Em resposta ao papa, o rei francês iniciou uma série de ataques à Igreja católica e prendeu o papa, de quase 70 anos, em agosto de 1303. Bonifácio VIII, bastante afetado pelos acontecimentos, morreu poucas semanas depois.
Para sucedê-lo foi eleito o papa francês Clemente V, que decidiu transferir a sede da Igreja católica de Roma para Avignon, cidade ao Sul da França, mais próxima da influência de Filipe IV. O papado ficou em Avignon por 70 anos.
Criou-se uma rixa entre os defensores da sede em Roma e os defensores do reino francês. A situação agravou em 1378, quando esses dois grupos escolheram o seu próprio papa, e cada um deles reivindicou o direito de ser reconhecido como sucessor legítimo de São Pedro. Durante 40 anos houve 2 papas no Ocidente, um em Roma e outro em Avignon.
Esse acontecimento quebrou a unidade da Igreja, e há enfraqueceu, e se desmoralizou politicamente. A unidade só foi recuperada em 1417, com o Concílio de Constança, pelo qual se restabeleceu o poder de um único papa com a cidade de Roma como sede do papado.



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