quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Revolução Federalista do Rio Grande do Sul (1893-1895)

A Revolução ocorrida no Rio Grande do Sul entre os anos de 1893 a 1895, pôs em xeque o novo modelo político, República, além de ter sido uma das mais violentas revoltas já ocorrida na América Latina.
Com o levante, os federalistas tentaram derrubar a nova elite política que passou a se constituir no Rio Grande do Sul a partir do PRR, entre eles Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros, Assis Brasil e Ramiro Barcelos.

1. Inimigos históricos
No Rio Grande do Sul, após a Proclamação da República veio à tona rixas antigas pelo poder. Os monarquistas estavam de fora do novo rearranjo político nacional e o clima era de guerra civil. Júlio de Castilhos, tendo a Câmara dos Deputados Estadual em sua mão, conseguiu aprovar em 14 de julho de 1891 a Constituição Estadual, que redigira no mesmo dia. Foi eleito presidente por voto unânime dos deputados.
Em Bagé foi fundado o Partido Federalista Brasileiro. Os federalistas defendiam o modelo político adotado durante o império (parlamentarismo), além de maior autonomia dos estados, além de serem contra a reeleição do presidente do estado, para que não se tornasse um pequeno ditador regional. Já os pica-paus defendia um governo autoritário (com poder executivo forte).
O Rio Grande do sul ficou divido politicamente  em duas frentes.

Pica-paus ou Republicanos
Seguidores do fazendeiro Júlio de Castilhos, formavam o Partido Republicano Rio-grandense (PRR) positivistas, eram formados por fazendeiros, médicos e advogados, eram chamados assim devido as roupas azuis e os quepes vermelhos. 
Principais líderes: Júlio de Castilhos, João Barros Cassal, João Abbot, Ernesto Alves, Demétrio Ribeiro, Salvador Pinheiro Machado, Antão de Faria, Borges de Medeiros, Assis Brasil, Fernando Abbot e Ramiro Barcellos.


Maragatos ou Federalistas
Seguidores do antigo Conselheiro do Império, Gaspar Silveira Martins, formavam o Partido Federalista (PF), monarquistas, eram formados pelos fazendeiros e políticos mais tradicionais, eram chamados assim, em uma alusão aos uruguaios, de origem na cidade espanhola de Maragataria que seguiam Gumersindo Saraiva.
Principais líderes: Gaspar Silveira Martins, Gumersindo Saraiva, João (Joca) da Silva Tavares, Juca Tigre, Joaquim Pedro Salgado, Manoel R. de Macedo, Prestes Guimarães, Rafael Gabeda e Gaspar Barreto.

Instabilidade política no Rio Grande do Sul
Logo após o golpe militar que instaurou a República no Brasil, o estado do Rio Grande do Sul mergulhou em um mar de instabilidade. Até o ano da revolução (1893), o estado teve 17 presidentes, sendo que 16 foram nos três primeiros anos da República.

2. A guerra
A guerra teve início na madrugada de 5 de fevereiro de 1893, quando Gumersindo Saraiva passou a fronteira do Uruguai  na cidade de Aceguá. No mesmo dia outros caudilhos como Juca Tigre, Ulisses Revervel, Rafael Cabeda, Joca Tavares de rebelaram contra Júlio de Castilhos.
O governador pica-pau Júlio de Castilhos e contava com o efetivo da Brigada Militar que contava com heróis veteranos da Guerra do Paraguai, além do apoio de Floriano Peixoto com dinheiro, armas e as tropas paulistas. Em uma das brigadas republicanas, contava com o comando de Manuel do Nascimento Vargas, pai de Getúlio Vargas.
Os maragatos, apesar de bravos eram despreparados. Seus "soldados" eram camponeses liderados pelos caudilhos locais ou alguns antigos heróis da Guerra do Paraguai, insatisfeitos coma república floriana. Os federalistas utilizavam em sua maioria armas brancas (lanças, espadas e facas).
Era uma guerra de guerrilha, os rebeldes fugiam do enfrentamento em campos de batalha.
As forças rebeldes maragatos quase controlaram o Rio Grande do Sul e avançaram sobre Santa Catarina, para se juntar com os revoltosos da Marinha. Parte deles foram até o Paraná e ocuparam Curitiba.

Brutalidade
Foi uma a mais sangrentas guerras da América do Sul (segundo o historiador Décio Freitas). O historiador, general Emilio de Souza Docca disse; "Essa revolução é um capítulo doloroso em nossos anis, que merece nossa condenação."
Com uma brutalidade bárbara impressionante, cada lado tinha homens dispostos a tudo, os inimigos eram tratados de maneira implacável. Ser feito prisioneiro, era uma sentença de morte. Muitos foram torturados até a morte ou simplesmente tiveram a garganta degolada. Não havia respeito aos mortos, os cadáveres eram saqueados no campo de batalha. Crueldade com os animais eram feitas, como cortar a língua do gado, na iminência de cair na mão do inimigo.   Foi deixado de lado toda a glória e honra da Revolução Farroupilha, em que os presos foram tratados com respeito para dar espaço a uma guerra suja e horrorosa.
O Rio Grande do Sul, durante a Revolução Federalista contava com uma população de aproximadamente 900 mil pessoas. Os quase 3 anos de revolta, deixou um saldo de mais de 10 mil mortos, considerando a população total da época no estado era 1 morto a cada 100 habitantes. Levando em conta o "Período do Terror" durante a Revolução Francesa, foram mortos, em enfrentamentos ou na guilhotina, 17 mil pessoas, porém a França contava com uma população de 23 milhões de pessoas.
Os mortos na revolução, eram em sua maioria assassinatos de presos, desarmados e com as mãos amarradas, em ambos os lados. O distrito de Hulha Negro, próximo a Bagé, viu cerca de 300 prisioneiros republicanos serem degolados, no Massacre do Rio Negro".
No massacre do Rio Negro, nasceu o mito Adão Latorre. É atribuído a ele a maioria - se não a totalidade - das degolas. O que se sabe, é que Adão, era filho de escravos brasileiros, mas ele nasceu no Uruguai, nas terras da família de Joca Tavares e ingressou no exército uruguaio. O diálogo a seguir, faz parte deste mito:
-Adão, quanto vale a vida de um homem de bem?
-Vale muito, mas a tua está na ponta da minha faca e não vale nada!
-Então degola, negro filha da puta!
Quatro meses e meio depois, em 10 de abril de 1894, foi a vez dos federalistas sofrem baixas. Foram 370 maragatos mortos, entre eles oficiais, na região conhecida como Boi Preto, próximo a cidade de Palmeiras das Missões.

Fim do conflito
A primeira grande derrota dos federalistas foi a não concretização da tomada da cidade de Bagé. A cidade fronteiriça além de ser uma das maiores, tinha um papel estratégico na ligação da fronteira e a campanha, possua uma linha férrea que ligava-a até a cidade portuária de Rio Grande e possuía uma grande guarnição militar. Além de ser a sede do partido federalista e  a cidade natal dos Tavares e dos Silveira Martins. A vitória dos maragatos poderia significar o fim do sistema presidencialista, ou até o fim da República e a volta da monarquia.
Em 1895, chegou a ajuda dos revoltosos da marinha, aos revoltosos gaúchos. Contudo o almirante Saldanha da Gama, que era um aristocrático sem experiencia em guerras de guerrilha e desconhecendo o pampa, desembarcou com um contingente pequeno de cavaleiros e foi trucidado pelas tropas republicanas lideradas pelo caudilho João Francisco Pereira de Souza, chefe pica-pau de Santana do Livramento. Os maragatos não conseguiram manter os postos conquistados, frente a um exército treinado e mais bem armado.
Júlio de Castilhos conseguiu reprimir o movimento de forma violenta. Em 23 de agosto de 1895, um acordo político, assinado em Pelotas, encerrou de vez a revolta, que deixou cicatrizes até hoje no imaginário do Rio Grande do Sul. O escritor Erico Veríssimo trata do conflito na sua obra de O Tempo e o Vento, no livro "O casarão".

-Guerra de Canudos
-República da Espada
-Política do Café com Leite

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