sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Revolução Francesa (1789-1799)

A Revolução Francesa é considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea.  Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté, Egalité, Fraternité), frase de autoria de Jean-Jacques Rousseau. Pela primeira vez na história do Ocidente, a população destituiu e condenou à morte um rei.

Custava muito caro ao tesouro real manter toda a pompa e
luxo da corte no Castelo de Versalhes
1. A França do Antigo Regime
No século XVIII, na França, a burguesia liderava as finanças, mas encontrava obstáculos em elementos feudais como a estrutura de propriedade e de produção, os tributos – corveia e talha – e, principalmente, a servidão. Os privilégios da nobreza como: isenção de tributos, julgamento e punições diferentes dos demais.

Divisão da sociedade francesa
a) Primeiro Estado: composto pelo Alto Clero (cardeais. Bispos e abades) e pelo Baixo Clero (padres, frades e monges). Possuía muitas terras e cobravam o dízimo e taxas sobre o batismo, casamento e sepultamento. Somavam 120 mil pessoas.
Rei Luís XVI
b) Segundo Estado: composto pela família real + nobreza palaciana ou cortesã (que morava na corte e sobrevivia à custa do Estado) + nobreza provincial (que se mantinham com as rendas das grandes propriedades rurais) + nobreza togada (alguns juízes e altos funcionários burgueses adquiriram os seus títulos e cargos, transmissíveis aos herdeiros). Viviam às custas da monarquia ou da exploração do trabalho dos camponeses. Somavam 350 mil pessoas
c) Terceiro Estado: composto pela burguesia (camponeses sem terra e os "sans-culottes", uma camada heterogênea composta por trabalhadores urbanos como artesãos, aprendizes e proletários, que tinham este nome graças às calças simples que usavam, diferentes dos tecidos caros utilizados pelos nobres.). Trabalhavam para geras a riqueza e os impostos à monarquia ou diretamente aos seus senhores. Somavam 24 milhões.
A sociedade francesa da segunda metade do século XVIII possuía dois grupos muito privilegiados, Primeiro e Segundo Estados, e um grupo oprimido e explorado por esses dois Estados, o Terceiro Estado. Os impostos e contribuições para o Estado, o clero e a nobreza incidiam sobre o Terceiro Estado, uma vez que os dois primeiros Estados não só tinham isenção tributária, como ainda usufruíam do tesouro real, por meio de pensões e cargos públicos.

 A crise financeira
A crise econômica do tesouro real francês estava em colapso. O Luxo e despesa da corte e Versalhes e o gasto com guerras, foram “financiados” ou pela burguesia ou pela parte pobre da população. A crise piorou com a grande seca de 1785, que destruiu boa parte do rebanho nacional.
Para contornar a crise financeira da frança, rei Luís XVI convocou a
Assembleia dos Estados Gerais
Gastando mais que arrecada e buscando uma saída, o rei Luiz XVI, assinou um tratado comercial com a Inglaterra, em 1786, adiando o pagamento de suas dívidas com os credores daquele país. Segundo o acordo a França venderia vinhos na Inglaterra sem impostos, e a Inglaterra venderia suas manufaturas sem imposto na França. O resultado foi desastroso. As indústrias francesas não conseguiram competir contra os ingleses, e muitos faliram.

A convocação dos Estados Gerais
O rei Luís XVI, tentando contornar a crise, nomeou em 1788 o prestigiado banqueiro Necker para o ministério das finanças. Ele passou a insistir na convocação do parlamento, em recesso desde 1614. Luiz XVI viu-se forçado a convocar o parlamento ou a Assembleia dos Estados Gerais para 5 de maio de 1789, que reuniria os representantes da nobreza, do clero e do povo. Aberta a sessão no Palácio de Versalhes, os interesses antagônicos dos grupos sociais ali representados entraram em choque.

2. O processo revolucionário
O Terceiro Estado exigiu o voto por cabeça, substituindo o voto por Estado. O rei Luiz XVI, apoiado pelo e clero e a nobreza decidiu que continuaria valendo o voto por Estado. As tensões aumentaram.
O 3º Estado rebelou-se durante a assembleia e reuniu-se
em separado a fim de elaborar uma Constituição
O rei tentou dissolver os Estados Gerais, ordenado a saída do Terceiro Estado da assembleia, que se negou a sair. O rei mandou fechar a sala onde estavam reunidos. O Terceiro Estado rebelou-se: reuniram-se em outra sala, com a participação de alguns representantes do primeiro estado (baixo clero) e representes do Segundo Estado (nobreza togada) declarando-se em Assembleia Nacional Constituinte com o objetivo de votar uma Constituição para a França. Em todas as decisões contaram com o apoio maciço do povo de Paris e arredores, deixando o rei e a nobreza cada vez mais isolados.


Assembleia Nacional Constituinte
Enquanto Luiz XVI tentava reunir tropas para anular a rebeldia dos deputados e reprimir as manifestações contrárias, criou-se a Guarda Nacional, uma milícia burguesa para resistir ao rei e liderar a população, foi instituído pela burguesia parisiense, a Comuna.
Queda da Bastilha em 14 de julho de 1789, marco inicial da
Rvolução Francesa
Em 13 de julho de 1789, a Comuna organizou a Guarda Nacional, uma milícia a fim de resistir a uma possível tentativa de retorno de Luiz XVI ao controle antes do fim da Assembleia e também para lutar contra eventuais manifestações mais violentas da população. Em Paris, os milicianos invadiram o Arsenal dos Inválidos para pegar as armas e as munições que ficavam guardadas naquele local. Só que a pólvora para as armas estava em outro lugar: a prisão da Bastilha.
 Em 14 de julho, a multidão miliciana, ao som La Marseillaise invadiu a fortaleza da Bastilha, símbolo do absolutismo, marco inicial da Revolução Francesa. No campo, os trabalhadores se rebelaram contra seus senhores. Os camponeses invadiam os castelos, e destruíam os registros de suas dívidas e os documentos que lhes davam o direito de cobrar impostos.
Em 4 de agosto de 1789 a Assembleia aprovou o fim da servidão, dos dízimos e dos privilégios feudais. Em 26 de agosto de 1789 foi aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, estabelecendo a igualdade de todos perante a lei, o direito à liberdade de expressão e de resistência à opressão. Também estabelecia o direito à propriedade, que é considerado inviolável.

A falta de pão
As mulheres francesas foram atuantes durante o processo revolucionário
Em 5 de outubro de 1789, as mulheres foram aos mercados, mas não encontraram pão para vender (o pão era a base da alimentação francesa na época). Uma multidão de 8 mil pessoas, imensa maioria de mulheres, marcharam cerca de 22Km até Versalhes. O rei foi obrigado a se transferir para Paris, instalando-se no Palácio das Tulherias.

A Monarquia Constitucional
Para resolver a crise financeira, os deputados decidiram, em 1790, confiscar os bens da Igreja e tornar cidadãos comuns os indivíduos pertencentes ao Primeiro Estado por meio da Constituição Civil do Clero. Os padres que não juraram esse documento foram declarados inimigos da Revolução.
Em 1791, a Assembleia Nacional proclamou a primeira Constituição da França, estabelecendo a monarquia constitucional, composta por três poderes: o executivo, exercido pelo rei, o legislativo (deputados) e o judiciário. O rei perdeu seus poderes absolutos e criou-se uma efetiva separação entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Além disso, foram concedidos direitos civis completos aos cidadãos.
A população foi dividida em cidadãos ativos e passivos. Somente os cidadãos ativos, que pagavam impostos e possuíam dinheiro ou propriedades, participavam da vida política. Era o voto censitário. Os passivos eram os não-votantes, como mulheres, trabalhadores desempregados e outros.

A Comuna Insurrecional de Paris 
Contrário às transformações que estavam ocorrendo, a alta nobreza fugiu para o exterior, buscando ajuda militar de outros reinos absolutistas, para pôr fim a revolução. De início os demais reinos absolutistas não deram muita importância. Entendiam eles que aquele problema era pontual francês. Tal postura mudou, quando verificaram a simpatia e o interesse de seus súditos ao ideal revolucionário, e a possível irradiação da revolução no continente.
Os governos absolutistas da Europa assinaram, em conjunto, a Declaração de Pillnitz, onde se prontificavam a agir com urgência se a situação assim exigisse. Em fevereiro de 1792, a assembleia decretava o confisco dos bens dos emigrados, acirrando ainda mais os ânimos. Em abril de 1792, a França declarou guerra à Áustria, pois ela se negara a expulsar os emigrados franceses de seu território. No entanto o exército estava desorganizado e foi derrotado nas primeiras investidas.
Aos austríacos juntaram-se os prussianos marcharam sobre a França, em direção a Paris. Diante dos acontecimentos, a Assembleia fez o decreto de “pátria em perigo” em julho de 1792 e organizou a resistência. O exército absolutista, comandados pelo duque Brunswick, dirigiu um manifesto que ameaçava o povo da cidade de “execução militar” caso não submetesse “imediata e incondicionalmente ao seu rei”.
O rei fugiu de Paris em direção a Áustria. Perto da fronteira, Luiz XVI foi reconhecido por membros do exército revolucionário e reconduzido à Paris. Sob a invasão externa e o receio de uma nova traição do rei, Luís XVI foi deposto de suas funções e preso com sua família.
Populares se juntaram ao exército francês, ganhando força. No dia 20 de setembro de 1792, em Valmy, as tropas da Revolução obtiveram sua primeira grande vitória sobre o exército austro-prussiano.

A Convenção Nacional era dividida em 3 grupos políticos, que sentavam em
locais separados na assembleia: Girondinos (direita), Planície (centro)
e Jacobinos (esquerda)
A Convenção Nacional (1792-1795)
Com a suspensão de Luiz XVI de seu cargo, foi eleita às pressas uma nova Convenção Nacional a fim de elaborar uma nova Constituição. A nova Convenção foi eleita através do voto universal masculino, e não pelo voto censitário. A Assembleia Nacional foi transformada em Convenção Nacional, assumindo o governo da França em 1792. A primeira medida tomada pela Convenção foi a abolição da realeza e a proclamação da república. A convenção abrigava cerca de 750 deputados, que se organizavam em três grupos:
1) Girondinos: eram os representantes da burguesia comercial e industrial, a maioria viera da região chamada Gironda. Defendiam o voto censitário, o direito à propriedade privada e eram contra à participação popular na revolução, a monarquia constitucional. Seus deputados sentavam-se a direita da Convenção, ficando conhecidos como “grupo de direita”;
2) Planície: eram representantes da alta burguesia, mas não tinham ideologia definida, agindo conforme seus interesses, oscilavam em moderação e radicalismo, seus representantes enteavam-se no centro da Convenção;
3) Jacobinos: eram os representantes dos sans-culottes (pequenos comerciantes, assalariados, etc.) e pequenos burgueses. Seus representantes eram Marat, Danton e Robespierre. Eram chamados republicanos radicais. Seus deputados sentavam-se a esquerda da Convenção, ficando conhecidos como “grupo de esquerda”.
Nos primeiros meses de vigência da Primeira República francesa, a política foi dominada pelos girondinos. À medida que a revolução se tornava mais radical, os jacobinos foram ganhando força e o controle do governo.

Rei e a rainha guilhotinados
Rei Luís XVI é executado na guilhotina. Nunca antes nos
tempos modernos, um rei fora executado.
O rei Luiz XVI foi acusado de traição e levado a julgamento. Os girondinos queriam sua absolvição e os jacobinos sua condenação. Depois de intensos debates, saiu a sentença: 90% dos deputados o julgaram culpado. Em 21 de janeiro de 1793, o rei Luiz XVI, com 38 anos foi guilhotinado em praça pública, ao som de aplausos. No dia 16 de outubro de 1793, foi a vez da rainha Maria Antonieta, ser executada na guilhotina.

Os jacobinos no poder e o período do terror
A execução de Luiz XVI indignou e aterrorizou os reis europeus e os nobres franceses gerando uma série reações. Os demais reis ficaram preocupados com o poder da Revolução e o medo de chegarem até seus reinos, implantaram uma forte censura na imprensa, para não noticiar nada que vinha da França. A Inglaterra uniu-se a outras monarquias e juntos, formaram uma coligação para atacar a França revolucionária.
Os nobres franceses organizaram-se em movimentos contrarrevolucionários. No interior, diversas regiões provinciais, partidárias da realeza deixaram de obedecer à Convenção. Para enfrentar a crise institucional, a Convenção criou dois órgãos especiais para defender a revolução:
- Comitê de Salvação Pública: responsável pelo controle do exército;
- Tribunal Revolucionário: encarregado de julgar as pessoas consideradas inimigas da revolução.
Jean-Paul Marat foi assassinado
Em Paris, no dia 13 de junho de 1793, o jacobino Jean-Paul Marat foi assassinado, agravando ainda mais a crise política. Em 2 de julho 1793, os jacobinos, comandando os sans-culottes, tomaram a convenção, prendendo os lideres girondinos, dando início a Convenção Montanhesa (1793-1794).
Os jacobinos liderados por Robespierre, asseguravam que era tarefa do Estado dar a todos os cidadãos os bens necessários para sua sobrevivência, nem que para isto, negasse a propriedade privada. As novas medidas a partir de então, deveriam romper com tudo o que representava com o Antigo Regime.
Para romper de vez foi criado um novo calendário nacional. O calendário era composto de 12 meses de 30 dias, os restantes 5 dias que faltavam para completar os 365 dias eram chamados de dias dos sans-culottes. O domingo foi abolido. Os meses tinham nomes relacionados com a natureza. O novo calendário da revolução foi criado em setembro de 1793 e entrou em vigor em outubro. O início do ano 1 desse calendário foi estabelecido para começar a zero hora do dia 23 de setembro de 1792.
·         Vindimário => latim vindemia = vindima, colheita da uva, de 22/9 a 22/10
·         Brunário => francês brumas = nevoeiro, de 23/10 a 20/11
·         Frimário => latim frimas = geada, de 21/11 a 20/12
·         Nivoso => latim nivosus = neve, de 21/12 a 19/1
·         Pluviso => latim pluviosus = chuva, 20/1 a 18/2
·         Ventoso => latim ventosus = vento, de 19/2 a 20/3
·         Germinal => latim germem = germinação, de 21/3 a 19/4
·         Floreal =. latim florens = flores, de 20/4 a 19/5
·         Prarial => francês Prairie = prado, de 20/5 a 18/6
·         Messidor => latim messis = colheita, de 19/6 a 18/7
·         Termidor => grego therme = calor, de 19/7 a 17/8
·         Frutidor => latim fructus = fruto, de 18/8 a 16/ 9
Dias dos sans-culottes. De 17/9 a 21/9
Foi adotado também uma nova Constituição, denominada de Constituição do Ano 1, por ter sido proclamada em 1793, o ano 1 do novo calendário, era republicana, igualitária e adotava o voto universal. O governo dos jacobinos contou com o apoio popular ao adotar medidas como a instituição do ensino público, gratuito e obrigatório, congelamento dos preços (lei do preço máximo), regulamentação dos salários, reforma agrária e a repartição dos bens dos nobres emigrados, o divórcio e abolição dos escravos nas colônias francesas.
Nesse período a radicalização política chegou ao auge, levando milhares de pessoas à guilhotina, acusadas de serem contrarrevolucionárias. As divergências entre os jacobinos eram tanto que Robiespierre condenou Danton (líder jacobino moderado), Hébert (chefe radical) a guilhotina. Com isto, foram se desgastando e perderam apoio da população.

Robiespierre foi condenado a morte por seus
companheiros revolucionários
O golpe do Termidor e o governo por Diretório (1794-1799)
Aproveitando-se da crise que se alastrou pela França alta burguesia girondina aliou-se com deputados da planície e reorganizaram a retomada o poder na Convenção. Defendendo o fim do banho de sangue jacobino, os girondinos invadiram a Convenção derrubando os líderes da Montanha, Robiespierre foi preso, condenado e executado na guilhotina em 4 de julho de 1794.
A Convenção Nacional Termidoriana (1794-1795), reativou o projeto político burguês, dando apoio aos comerciantes, industriais e banqueiros, e, inserindo a França no sistema capitalista. Em 1795 elaborou uma nova Constituição, reafirmou a república, restabeleceu o voto censitário (que excluía a maior parte da população) e estabelecendo o poder executivo com o Diretório, formado por cinco membros eleitos pelos deputados.
O novo governo caracterizou-se pela supremacia girondina, e enfrentou resistências dos jacobinos e Monarquistas. Diversos levantes populares e ameaças de invasões da França por forças estrangeiras contrarias à Revolução.  
Os monarquistas, apoiados pelos ingleses, lideravam as revoltas com a finalidade de levar ao poder o conde de Artrois (irmão de Luiz XVI). Os jacobinos pressionavam por meio da intimidação física. Graco Bebeuf liderou um movimento popular, chamado de “Conspiração dos Iguais”, propondo o fim da propriedade privada. O levante foi sufocado, Bebeuf e seus seguidores foram executados.
O governo endureceu o regime fechando jornais de oposição e ameaçando expulsar da França quem fosse contrário o Diretório. O governo não consegui se estabelecer, pois estava mergulhado em escândalos e atos de corrupção.

Golpe de 18 de Brumário
Nos jornais a fala era sempre a mesma: A França necessita de um líder enérgico, respeitado e que fosse admirado por todos.  O jovem militar, Napoleão Bonaparte, que muito cedo chegou ao posto de general, devido a sua bravura na resistência francesa às invasões estrangeiras, reunia todos estes requisitos. Napoleão aliou-se com os girondinos, desfechou um golpe contra o Diretório, o golpe do 18 de Brumário (22/10-20/11). O Diretório foi substituído por uma nova forma de governo – o Consulado, ajudando a consolidar as conquistas burguesas da Revolução. 




-Iluminismo
-Independência das 13 Colonias Inglesas na América do Norte
-Era Napoleônica
-França pós Napoleão 

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