sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Semana de Arte Moderna

A Semana de Arte Moderna também chamada de Semana de 22, ocorreu em São Paulo no ano de 1922, no período entre 11 de fevereiro e 18 de fevereiro no Teatro Municipal de São Paulo, na mesma cidade. Durante os sete dias que de exposição, teve como principal propósito renovar, transformar o contexto artístico e cultural urbano. Foram expostos quadros e artes consideradas modernista, em relação a época, foram apresentadas poesia, música e palestras sobre a modernidade, que deixou alguns ilustres escritores e artistas de renome indignados.

1. Modernismo pelo mundo
A industrialização, os avanços tecnológicos do final do século XIX e início do XX, contribuíram para a urbanização de muitas nações. As populações das grandes cidades mudaram seus costumes e as artes acompanharam estas mudanças.
As inovações da II Revolução Industrial, estimularam o consumo capitalista ainda mais. A fabricação em série diminuiu os custos do produto final, estimulando o comércio. Inventos como como o telégrafo, telefone, rádio, cinema, navio a vapor, estradas de ferro e automóvel aproximaram as pessoas. A fotografia, substituía os quadros de retrato. Além de ser novidade, mais barata representava uma realidade maior que a pintura. Neste contexto, os pintores tiveram que inovar, pararam de tentar imitar a realidade e sim interpretara a realidade, um grande exemplo é o pintor espanhol Pablo Picasso.
Em Guernica, Pablo Picasso demonstra os horrores do bombardeio de sua cidade durante a Guerra Civil Espanhola, ao mesmo tempo  que expõe os avanços tecnológicos do período.
Picasso é um pintor que adotou o estilo chamado de cubismo, devido suas formas geométricas. Contudo surgiram outras formas de expressão de arte, como o impressionismo e o dadaísmo. Estas novos estilos, são chamados de vanguardistas, pois trouxeram uma nova forma de representar a realidade.
O surgimento das grandes cidades, com suas características, juntamente com o contato entre as diversas classes sociais, foram um prato cheio para os artistas da época. Estes novos modos de vida, trouxeram novas percepções da realidade, muito bem captada pelos artistas. Os artistas da época se interessavam pelo presente, descrevendo as mudanças sociais e pelo futuro, por aquilo que era moderno, por isto ficaram conhecidos como modernistas.
Outro fato inovador, do movimento modernista, foi a forma com que trataram a cultura "periférica", produzida fora do eixo Europa-EUA. O que antes era tratado como  arte primitiva, recebeu atenção especial pelos vanguardistas.

2. Modernismo brasileiro
O movimento modernista surgiu em um contexto repleto de agitações políticas, sociais, econômicas e culturais. Em meio a este redemoinho histórico surgiram as vanguardas artísticas e linguagens liberadas de regras e de disciplinas. A Semana, como toda inovação, não foi bem acolhida pelos tradicionais paulistas, e a crítica não poupou esforços para destruir suas idéias, em plena vigência da República Velha, encabeçada por oligarcas do café e da política conservadora que então dominava o cenário brasileiro. A elite, habituada aos modelos estéticos europeus mais arcaicos, sentiu-se violentada em sua sensibilidade e afrontada em suas preferências artísticas.
Anita Malfatti, que chegara da Europa, vivenciou no velho continente experiências vanguardistas que marcaram intensamente seu trabalho. Em 1917, ela realizou, o que ficou conhecida como a primeira exposição do Modernismo brasileiro. Este evento foi alvo de grandes críticas de Monteiro Lobato, provocando assim o nascimento da Semana de Arte Moderna, que se realizaria 5 anos depois.

Uma nova forma de arte
Mudar, subverter uma produção artística, criar uma arte essencialmente brasileira, embora em sintonia com as novas tendências europeias, essa era basicamente a intenção dos modernistas brasileiros. Tarsila do Amaral juntou-se a Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade e Mário de Andrade, formando o "Grupo dos Cinco", que lançou a Semana de Arte Moderna e demostrou toda esta inovação ao público brasileiro. 
Abaporu, de Tarcila do Amaral
A Semana representou uma verdadeira renovação de linguagem, na busca de experimentação, na liberdade criadora na ruptura com o passado e até corporal, pois a arte passou então da vanguarda, para o modernismo. O evento marcou época ao apresentar novas ideias e conceitos artísticos. Seu objetivo era renovar o ambiente artístico e cultural da cidade com “a perfeita demonstração do que há em nosso meio em escultura, arquitetura, música e literatura sob o ponto de vista rigorosamente atual”, como informava o Correio Paulistano a 29 de janeiro de 1922.
A Semana, de uma certa maneira, nada mais foi do que uma ebulição de novas ideias totalmente libertadas, nacionalista em busca de uma identidade artística brasileira própria e de uma maneira mais livre de expressão. Sob a inspiração de novas linguagens, de experiências artísticas, de uma liberdade criadora sem igual, com o consequente rompimento com o passado. Novos conceitos foram difundidos e despontaram talentos como os de Mário e Oswald de Andrade na literatura, Víctor Brecheret na escultura e Anita Malfatti na pintura. Contudo, como toda inovação, não foi bem aceita pela elite econômica da época.

Uma semana de exposições
A Semana de Arte Moderna, foi realizada  no Theatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. Cada dia correspondia a um festival: pintura e escultura; literatura e poesia; música.

Operários, de Tarcila do Amaral
Pintura e escultura
No dia 13, Graça Aranha proferiu a conferência A emoção estética na arte, elogiando os trabalhos expostos, ao mesmo tempo que criticava a Academia Brasileira de Letras e exaltava os artistas expositores, como agentes atuantes na "libertação da arte".
Embora o principal centro de insatisfação estética seja, nesta época, a literatura, particularmente a poesia, movimentos como o Futurismo, o Cubismo e o Expressionismo começavam a influenciar os artistas brasileiros.
Daisy , de Victor Brecheret 
Entre os pintores e desenhistas, encontravam-se: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Yan de Almeida Prado, John Graz, Oswaldo Goeldi, entre outros. Entre os arquitetos, encontravam-se:  Antonio Garcia Moya e Georg Przyrembel. Entre os escultores, encontravam-se: Victor Brecheret, Hildegardo Leão Velloso e Wilhelm Haarberg.

Literatura e poesia
No dia 15, Oswald de Andrade leu alguns de seus poemas e Mário de Andrade fez uma palestra, chamada de A escrava que não é Isaura, onde se evocava o "belo horrível" e evocava a necessidade do abrasileiramento da língua portuguesa e a volta ao nativismo. Contudo, as maiores emoções ocorrem quando Ronald de Carvalho lê um poema de Manuel Bandeira, o qual não comparecera ao teatro por motivos de saúde, estava com tuberculose, Os sapos, gerando várias manifestações manifestação contrárias do público. Trata-se de uma ironia corrosiva aos parnasianos, que ainda dominavam o gosto do público que reagiu com vaias e gritos interrompendo a sessão. 
Entre os escritores encontravam-se: Mário e Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Sérgio Milliet, Plínio Salgado, e outros mais. A nova geração intelectual brasileira sentiu a necessidade de transformar os antigos conceitos do século XIX. 
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.

A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
'- Meu pai foi à guerra
- Não foi! - Foi! - Não foi!' O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado
Diz: - 'Meu cancioneiro

É bem martelado*.'
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo

Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento* sem joio.
Faço rimas com

Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhe dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma. Clame a sapataria
Em críticas céticas:
'Não há mais poesia,

Mas há artes poéticas...'
Brada de um assomo
O sapo-tanoeiro:
'A grande arte é como

Lavor de Joalheiro'
Urra o sapo-boi:
'- Meu pai foi rei - Foi!

- Não foi! - Foi! - não foi!'
               Os sapos, de Manuel Bandeira


Música
No dia 17, a reação hostil não poupou nem mesmo Villa-Lobos. A música estava representada por autores consagrados. Entre os músicos, encontravam-se: Villa-Lobos, Guiomar Novais, Ernani Braga e Frutuoso Viana.

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