terça-feira, 22 de setembro de 2015

América Portuguesa: Economia Açucareira

Por mais de três séculos, o açúcar foi a maior riqueza produzida na colônia portuguesa na América e o principal produto exportado para a sua metrópole.

1. Um negócio lucrativo
Durante os dois primeiros duzentos da colonização portuguesa em terras americanas, muitas atividades econômicas foram praticadas. Contudo, a produção de açúcar tornou-se o negócio mais rentável na colônia.
Devido ao clima, na Europa não se cultivava a cana-de-açúcar, por isto o preço era elevado no continente, sendo um excelente negócio a produção no Brasil. Na parte litorânea do Nordeste da colônia, o plantio da cana-de-açúcar apresentou os melhores resultados, especialmente em Pernambuco e na Bahia. Essas capitanias foram favorecidas pela maior proximidade da metrópole, pela disponibilidade de terras aráveis, pelo clima e pela existência de rios navegáveis, que facilitavam o transporte do açúcar.
Devido ao alto rendimento, as terras litorâneas ficaram exclusivamente para o cultivo de açúcar. Os engenhos de açúcar eram abastecidos, com produtos vindos de outras localidades como e a produção de alimentos, a criação de gado bovino e vários serviços artesanais, desenvolveram-se para atender às suas necessidades.
A organização da produção açucareira
Na criação das capitanias hereditárias, Portugal deixou a cargo dos donatários a distribuição aos colonos sesmarias, que eram lotes de terra que deveriam ser explorados economicamente. As sesmarias ou parte delas ocupavam grandes áreas, chamadas latifúndios. Quando o detentor da sesmaria não tinha condições de explorá-la totalmente, ele podia terceirizar o uso de suas terras em troca de pagamento. Esse regime ficou conhecido como arrendamento.
Poucos latifundiários possuíam recursos próprios para montar uma plantação de cana e arcar com os custos de instalação do equipamento utilizado na fabricação de açúcar. Por isso, a atividade açucareira esteve estreitamente ligada a financistas europeus, principalmente holandeses. Eles emprestavam dinheiro para os investimentos necessários ás propriedades coloniais, como aquisição e manutenção de maquinário, compra de escravos e aumento da área de cultivo.

2. Os engenhos
O engenho era o espaço complexo da economia açucareira colonial. Era nele que a produção de açúcar ocorria. Porém, como centro econômico na colônia, corria além de trabalho, as festas, as atividades religiosas e os encontros de negócios.

O engenho
Existia dois modelos de engenho: o engenho trapiche, era o tipo de engenho em que se usava força humana ou animal e a moenda era movida pela força hidráulica.
A produção açucareira ocorria nos engenhos. O engenho era composto pela plantação de cana, pelas instalações para obter o açúcar e pelas residências de proprietários, colonos e trabalhadores. Aqueles que possuíam engenhos eram chamados de senhores de engenho.
Os fazendeiros que não tinham engenhos eram chamados lavradores de cana. Havia basicamente duas categorias de lavrador: os proprietários de terra e os arrendatários.
Os proprietários cultivavam a cana em suas próprias terras. Entre eles havia lavradores de cana obrigada, que eram obrigados a moer a cana em um determinado engenho, e lavradores de cana livre, que podiam moer a cana em qualquer engenho. Os arrendatários, em geral, eram lavradores de cana obrigada, e seus lucros tendiam a ser menores.

Casa-Grande
A casa-grande era a cede do latifúndio, a residência do senhor de engenho. A maioria eram de um pavimento, porém existiam algumas de dois pavimentos e estas eram mais apreciadas. Os quartos das filhas do casal ficava no centro do prédio, sem janelas, para controlar a filha. Devido a forte da presença da Igreja católica, na colônia, eram comum oratórios e até mesmo um cômodo ser destinado a ser uma capela particular.
Nela viviam toda a família do latifundiário e de lá era administrado o engenho. As esposas do senhor de engenho, não faziam praticamente tarefa alguma, ficando a cargo das escravas. As senhoras eram mal vestidas, comparadas as que viviam na metrópole, além de pouco saírem de casa.

Senzala

Era o local onde os escravos habitavam. Era um prédio rudimentar, com paredes de barro e telhado de sapé. Era praticamente um prédio único, sem divisórias. as divisões eram feitas de madeira ou palha. Sua vestimenta era feito de tecidos rudimentares. A comida era diferente do que se comia na casa-grande.

Os senhores de engenho

Os senhores de engenho constituíam o grupo social mais poderoso da colônia. Vários deles fizeram fortunas e formaram uma elite que desfrutava de muitos privilégios. Detentores de grandes riquezas, terras e escravos, eles representavam o poder máximo no engenho.
Em seu dia a dia, ocupavam-se com a aquisição de terras, o comércio do açúcar, a compra, a venda e o controle dos escravos, a administração da propriedade e o pagamento dos salários aos trabalhadores livres. Eles também cuidavam dos assuntos relacionados aos rebanhos e ás lavouras, lidavam com problemas domésticos e familiares e com a acomodação dos hóspedes.

3. Trabalhadores na economia açucareira
Para a produção do açúcar, em todas as etapas de sua produção, havia a presença maciça de escravos. Contudo, o trabalho na colônia não se resumia somente ao trabalho escravo, tinha também, trabalhadores livres que realizavam diversas tarefas especializadas.

Feitor
O feitor do eito (plantação que os escravos trabalhavam) escolhia as terras para o plantio, o tipo de cana utilizado na lavoura e determinava os momentos adequados para o cultivo e a colheita. O feitor da moenda recebia os feixes de cana e controlava a produção do caldo. Antes deles havia o feitor-mor (uma espécie de gerente), que tinha a responsabilidade de cuidar do ritmo da produção e tinha poderes para substituir e castigar os escravos quando achasse necessário, além de ser responsável pelos equipamentos utilizados.

Os escravos

Os escravos de origem africana realizavam a maior parte das atividades nos engenhos. Eles participavam quase integralmente do processo de produção de açúcar e também trabalhavam como carpinteiros, serralheiros, marceneiros, barqueiros, ferreiros e pedreiros. As escravas, além do trabalho no eito, realizavam uma série de atividades domésticas para os senhores de engenho.
A vida do escravo de origem africana caracterizou-se sobretudo pela violência. A retirada forçada da terra natal, os trabalhos pesados e insalubres, a alimentação precária, os castigos físicos e a desagregação das famílias foram traços marcantes da escravidão africana na América portuguesa.
No engenho, os escravos africanos eram separados de acordo com algumas características:

a) Escravos boçais: eram os que tinham dificuldade para se adaptar aos trabalhos, à língua e aos costumes da colônia. Eram destinados às tarefas cansativas, repetitivas tanto no eito, quanto na casa das máquinas.

b) Escravos ladinos: eram considerados mais capazes para aprender as novas técnicas e manusear equipamentos mais complexos. Eles estavam presentes nas moendas, nas caldeiras, na casa de purgar, na casa-grande e nas oficinas (olarias, carpintarias e ferrarias).

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