Cultura Durante o Regime Militar
O período da ditadura militar foi também um momento de ebulição cultural, com a realização de importantes manifestações artísticas. De alguma forma, os artistas que apresentavam suas obras dialogavam com o processo político da ditadura. A arte tornou-se um caminho para a contestação aos governos militares.
1. O teatro engajado
Em São Paulo, o sucesso do Teatro de arena, que privilegiava os autores nacionais e a discussão da realidade política do país, estimulou outros grupos teatrais e encenar peças com temas engajados na realidade nacional.
O Teatro de Oficina
Além do Arena, outro expoente do teatro engajado brasileiro foi o Teatro de Oficina. Fundado em 1958 por um grupo de estudantes da faculdade de Direito da USP, o Oficina se tronou um local para a repercussão de temas políticos nas décadas de 1960 e 1970.
Em 1967, o Oficina realizou uma das principais montagens teatrais do período: O rei da vela, baseado em texto escrito em 1933 por Oswald de Andrade. A peça narra a história de um industrial falido do ramo de velas, que se afunda em dívidas tomando dinheiro emprestado de um americano. Toca em temas controverso, como economia nacional, a relação com os EUA e o conflito de classes.
2. Música
No meio artístico da música, tanto cantores quanto compositores escolheram um lado para atuar durante o regime militar.
Os festivais de música
Na segunda metade da década de 1960, os festivais de música popular da TV Record, de São Paulo, tinham o propósito de lançar novos talentos. Tais eventos tiveram grande sucesso graça a dois fatores: a expansão da TV no Brasil com grandes emissoras (Record, Globo, Excelsior e Tupi) e o momento político vivido no país, com a juventude percebendo nas letras das cações um para expressar a indignação dos artistas contra a opressão imposta pela ditadura.
Entre 1965 e 1969, os festivais possibilitaram o surgimento de uma nova geração de compositores e intérpretes da MPB como: Geraldo Vandré, Edu Lobo, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Milton Nascimento, Elis Regina, Jair Rodrigues entre outros, com canções como “Pra não dizer que não falei de flores”, mais conhecida como “Caminhando”, de Geraldo Vandré, que se tornou um hino de contestação e mobilização contra o regime militar, juntamente com o samba “Apesar de você”, de Chico Buarque de Holanda.
Caminhando tornando-se um hino de resistência contra o governo militar foi censurada. O Refrão “Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora, / Não espera acontecer” foi interpretado como uma chamada à luta armada contra os ditadores.
“Apesar de você” é uma canção escrita e originalmente interpretada por Chico Buarque de Hollanda, em 1970, no exílio em Roma. A canção, por implicitamente lidar com a questão da falta de liberdade durante a época da ditadura militar, foi proibida de ser executada pelas rádios no Brasil pelo governo Médici. Muitos dos intérpretes de canções que despontaram nos festivais de MPB, foram acompanhados de perto pelos órgãos repressores, tendo alguns sido torturados ou partir para o exílio.
Paralelamente aos festivais de MPB, também foram realizados os festivais universitários e o festival Internacional da Canção, cuja primeira edição foi apresentada pela TV Rio e depois pela Rede Globo.
Tropicalismo
O Tropicalismo nasceu com a proposta de assimilar influencias, ritmos e formas musicais em evidência em outras partes do mundo. Para os tropicalistas, tratava-se de mesclar temas brasileiros com inovações estéticas estrangeiras, sem rejeitar nenhum gênero musical nacional.
Artistas e grupos musicais, como Tom Zé, Os Mutantes, Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros absorviam elementos de diferentes gêneros musicais (rock, bolero, samba, etc.), recorrendo à guitarra elétrica em substituição ao vilão, e enfatizavam a necessidade de modernização e internacionalização da MPB.
Os tropicalistas influenciaram vários campos artísticos para além da música. Montagens de teatro, como o rei da vela, manifestações artísticas, como as de Hélio oiticica e filmes como Terra em transe, de Glauber Rocha.
3. Os aliados do regime
Contudo, nem só de contestação viviam a classe artística. Em 2013 foi revelado um documento em anexo produzido pelo Centro de Informações do Exército (CIE), classificado como informe interno e confidencial, o CIE reclama que alguns veículos intitulados pelos militares de “imprensa marrom” (tal qual O Pasquim) estariam fazendo campanhas e matérias denegrindo a imagem de determinados artistas que se "uniram à revolução (sic) de 1964 no combate à subversão e outros que estiveram sempre dispostos a uma efetiva colaboração com o governo" contra alguns artistas amigos e colaboradores da ditadura. No documento emitido pelo Centro de Informações do Exército são revelados alguns desses "colaboradores", considerados pelos militares como amigos, aliados do regime.
O informe difundido para outros órgãos da repressão política sugere que esses artistas “amigos da ditadura” sejam blindados, protegidos. São citados: Wilson Simonal, Roberto Carlos, Agnaldo Timóteo, Clara Nunes, Wanderley Cardoso e Rosemary.
Jovem Guarda
A Jovem Guarda, cujo surgimento está ligado ao programa de mesmo nome apresentado nas tardes de domingo na TV Record a partir de 1965. Foi um movimento musical, totalmente alheio as conturbações políticas existentes no país. Suas letras não faziam crítica alguma ao regime militar.
Basicamente repercutia e incorporava características do rock, influenciado, sobretudo, por grupos como Beatles e Rollings Stones. A assimilação deu origem ao chamado “iê-iê-iê”, o rock brasileiro da década de 1960.
Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, os maiores expoentes do movimento, influenciaram uma multidão de jovens, que passaram a copiar o modo de vestir, de falar e de se comportar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário